Esta decisão, tomada por uma maioria de 57,5% dos eleitores dos 26 cantões que compõem aquele estado, pela sua gravidade e precedente não deve ser encarada da forma leviana, mas sim como uma expressa manifestação de intolerância e, principalmente, de profundo temor pelo que pareça diferente.
Apresentada a referendo por iniciativa da formação política que domina o parlamento helvético – a UDC, formação da direita mais conservadora – e justificada por se tratarem de símbolos político-religiosos, a iniciativa (e o resultado) ganha acrescidos foros de importância e de significado político quando na mesma oportunidade foi também referendada uma proposta para a proibição da exportação de armamento, apresentada por uma organização antimilitarista (o Grupo para uma Suíça sem Armas), cuja rejeição reforça a ideia de que na consulta terão prevalecidos argumentos pouco humanistas e de natureza xenófoba e proteccionista...
...que, há evidência, nem o humor com que foi por vezes abordada a campanha para o referendo...
...conseguiu disfarçar a carga profundamente negativa do resultado.
Pior, a intolerância revelada pelo eleitorado suíço está já a provocar ondas de choque noutros países europeus. A avaliar por esta notícia do LE MONDE, formações políticas da direita populista belga e holandesa já anunciaram idênticas intenções, reforçadas por declarações como as que aquele jornal atribui ao deputado flamengo Filip Dewinter, que preconiza «...dar aos muçulmanos um “sinal de que devem adaptar-se à nossa maneira de viver e não ao contrário”».
Embora num terreno especialmente do agrado dos movimentos populistas, minado pelo preconceito, por hipotéticas clivagens de natureza religiosa e particularmente propício a exacerbamentos e a radicalizações, está aberto o campo para o debate sociológico. Caberá a saída a terreiro de todos os que ainda defendem o direito à diferença e à liberdade individual.
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