domingo, 22 de novembro de 2009

O QUE OBAMA FOI FAZER À ÁSIA

Terminado o périplo asiático que levou Barack Obama a vários países do continente asiático, com objectivos de natureza estratégica mais ou menos precisos, como seja o do reforço das relações com um Japão que conhece um governo um pouco menos receptivo aos interesses americanos que o habitual, o da normalização dos laços económicos com os países da ASEAN[1], o da questão nuclear com a Coreia do Norte e, principalmente, as relações económicas com a China.

A parte reservada ao relacionamento com o Império do Meio, sendo a mais importante é também a mais polémica; seja porque historicamente este relacionamento nunca foi fácil, seja porque a dependência americana do financiamento chinês é cada vez maior, a ponto de questões de natureza político-militar terem que ficar em “stand-by”.

Embora as primeiras notícias e as reacções sobre os resultados das conversações entre Obama e Hu Jintao sejam ainda escassas e demasiado cautelosas, pode-se já assegurar que aquela que poderia (deveria, no entender de muitos analistas económicos[2]) ter sido a questão base – a política monetária chinesa que persiste em manter uma moeda demasiado desvalorizada e associada ao valor do dólar norte-americano, provocando um enfraquecimento da economia americana e o crescimento das exportações chinesas – não foi objecto de discussão talvez por Washington temer demasiado qualquer perturbação no fluxo financeiro chinês que assegura o funcionamento do seu sistema financeiro, que mais não seja através da dívida pública que têm adquirido em grandes quantidades[3].

Por outras palavras, Obama e Hu Jintao poderão ter chegado a acordo em questões em que haja coincidência de interesses, como o adiamento de novas e mais significativas medidas de combate à poluição[4] que pudessem vir a resultar da próxima Conferência Sobre o Clima que terá lugar em Copenhaga, mas nunca em matérias que possam introduzir perturbações nos grandes negócios que continuam a ocorrer em Wall Street[5].

O receio de que a China suspenda a compra da dívida pública norte-americana, nos montantes em que o tem vindo a fazer ou de que exerça qualquer tipo de pressão financeira sobre a moeda americana é tão grande que até a evidente política armamentista chinesa[6] terá passado à margem dos contactos efectuados.

Mergulhada em pela crise económica, a América de Obama (e não o próprio Obama com refere Bernardo Pires de Lima nesta crónica publicada no I) com um aparelho produtivo deslocalizado, em benefício exclusivo dos grandes investidores, uma população sustentada por uma espiral de endividamento, financiada pelos excedentes comerciais gerados pela economia chinesa, é muito mais frágil do que o Mundo pensa.
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[1] A Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) é uma organização regional de estados do sudeste asiático, fundada em 8 de agosto de 1967, pela Tailândia, Filipinas, Malásia, Singapura e Indonésia, conta actualmente com 10 membros (aos fundadores juntaram-se o Brunei, o Vietname, Mianmar, o Laos e o Camboja) que têm como objectivo a criação de uma zona de comércio livre.
[2] Entre estes conta-se Paul Krugman que deixou bem claras as susa ideias no artigo «UM MUNDO DESEQUILIBRADO» recentemente publicado no jornal I.
[3] Algumas fontes estimam que a China deterá cerca de 800 mil milhões de dólares só em obrigações do tesouro americano.
[4] Não esquecer que os EUA e a China são responsáveis em conjunto por quase 40% da poluição mundial.
[5] Exemplo disso mesmo é este artigo publicado no Wall Street Journal da autoria do secretário de estado do tesouro, Timothy Geithner, e dos ministros das finanças da Indonésia e de Singapura.
[6] Actualmente a China disporá de umas forças armadas com cerca de 7,5 milhões de homens (o terceiro maior exército mundial, atrás do Irão, com 12 milhões, e do Vietname com 9 milhões) mas o facto mais importante é que o seu orçamento, estimado em 80 mil milhões de dólares (só ultrapassado pelos mais de 600 mil milhões dos EUA), tem vindo a cresce a uma taxa anual de 10%.

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