Não é só a questão da nomeação de dois perfeitos desconhecidos, como van Rompuy e Catherine Ashton, para duas importantes funções, como a forma de governância que resulta da entrada em vigor do Tratado de Lisboa.
Como se não bastasse termos um tratado que por decisão da nomenclatura política não foi objecto da ratificação popular (e no caso em que a tal foi sujeito, a votação teve que ser repetida a fim de se obter uma aprovação), ainda temos um texto cujos princípios orientadores de marcada tendência neo-liberal se vêem cada vez mais contestados pela realidade político-económica que ajudaram a criar.
E a atestar pelas declarações de Durão Barroso hoje reproduzidas pelo DN, nas quais o actual presidente da Comissão Europeia afirma que o «…Tratado de Lisboa coloca os cidadãos no centro do projecto europeu. Congratulo-me com o facto de termos agora as instituições correctas a funcionar e um período de estabilidade, para podermos concentrar todas as nossas energias na resolução das questões com um interesse primordial para os nossos cidadãos», confirma-se que a nomenclatura política europeia ainda revela a estultícia de comemorar este conjunto de alarvidades e de atropelos democráticos, como se de um grande feito democrático se tratasse.
Enquanto isto, a crise económica mundial continua a dar evidentes sinais de agravamento (veja-se o caso sucedido com a poderosa DUBAI WORLD ou as notícias que dão conta da recente revisão em baixa das perspectivas de crescimento do PIB norte-americano) e as forças políticas mundiais posicionam-se para o que já se antevê como o redesenho da correlação de forças que emergirá após a crise.
Mais do que nunca este é o momento em que a UE precisava de uma liderança esclarecida e objectiva, para disputar com os EUA e a China os termos que o Mundo irá funcionar, mas o que os inqualificáveis dirigentes europeus (aqueles que de uma ou outra forma obtiveram os votos necessários para se alcandorarem nas cadeiras do poder) nos propõem é que aceitemos pacificamente as suas manobras de bastidores e que sujeitemos os legítimos interesses europeus aos seus pequenos prazeres de poder pessoal.
Nem o evidente fracasso da iniciativa norte-americana pode servir para esconder a dura realidade que é a do decrescente reconhecimento da importância política duma UE dilacerada pelas suas contradições internas (ainda mais agravadas numa época de crise económica), frágil nas suas estruturas organizativas e quase inexistente na sua representação política.
Quando o mais importante para os principais actores mundiais é a definição de áreas de influência e a marcação de territórios económicos (seria mais correcto falar em mercados dependentes), quando a luta entre a desgastada hiper-potência e as candidatas China, Índia, Rússia e Brasil se agudiza é que a UE, de moto próprio ou por influência exterior, abdica voluntariamente de se fazer representar por alguém dotado das qualidades e da estatura política correspondente à verdadeira dimensão e importância da Europa.
Já não se tratará apenas de uma questão de prestígio, pois decerto ninguém de bom senso acredita que um rato poderá arbitrar (ou decidir) a luta entre dois leões…
...trata-se antes de anunciar ao Mundo que a UE abdica do estatuto internacional que o seu poder económico lhe deveria conferir.
Esta realidade é de tal forma evidente que nem sequer será necessário esperar pelo julgamento das gerações vindouras, pelo que podemos desde já começar a homenagear os nossos dirigentes da forma que eles bem o merecem: com uma monumental pateada…
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