As escolhas que recaíram sobre o primeiro-ministro belga, Herman van Rompuy, e a actual Comissária para o Comércio, a britânica Catherine Ashton, e a forma como as mesmas foram alcançadas – num complicado processo “negocial” entre os governos dos estados-membros e os partidos representados no Parlamento Europeu, que ditaram o afastamento de um ou outro candidato com muito melhor perfil que o dos escolhidos – constituem um reflexo paradigmático da forma como é actualmente vivido o fenómeno da integração europeia e pode bem ser tratado como mais uma “história belga”[1].
Além de duas figuras particularmente cinzentas (facto que boa parte da imprensa europeia não deixou de assinalar) e com reduzida ou nula experiência para a função (o caso da ainda Comissária Catherine Ashton é por demais evidente) o que se pode concluir desta nomeação é que a mesma nunca teve como objectivo a escolha do melhor “homem” para a função, mas tão somente a preocupação de garantir que dos nomeados dificilmente virá algo de novo.
Aliás estas nomeações podem ser muito melhor entendidas (e as explicações e fundamentações podem ser facilmente encontradas na generalidade das peças jornalísticas publicadas sobre o tema) se recordarmos a escolha do nosso Durão Barroso para a presidência do Conselho Europeu; é que, por incrível que possa parecer van Rompuy foi há poucos meses nomeado primeiro-ministro na sequência de um longo e complicado impasse político e agora, tal como antes sucedera com o actual presidente da Comissão, revelando um elevado sentido de estado e profundos sentimentos de missão pública prepara-se para abandonar o governo da Bélgica por troca com um lugar de relevo na UE.
Como se não bastasse a forma como os políticos chegaram a esta nomeação, o que ressalta dela é que a UE vai apresentar como seu principal representante um personagem que revela uma ausência de valores éticos que além de o desqualificarem para a função demonstram perfeitamente os valores dos pares que o escolheram e o pior é que, agora mais que nunca, a Europa precisa de apresentar uma imagem da máxima credibilidade se quiser ter uma palavra a dizer no “jogo” entre americanos e chineses.
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[1] Na terminologia francófona uma “história belga” é uma anedota, normalmente assente num trocadilho, que nos primórdios terá tido como personagem central um belga (qual é o povo que não tem um manancial de anedotas sobre os povos seus vizinhos ou sobre os naturais de uma qualquer região) mas que nos tempos actuais já alargou substancialmente o seu campo de acção.
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