sábado, 8 de agosto de 2009

A RECESSÃO PERSISTENTE

Numa semana em que se sucederam notícias dos mais variados cambiantes e matizes sobre a situação económica mundial – desde a apologétima afirmação do “mago” Greenspan de que a «retoma está muito próxima», até às nenos animadoras que asseguram que nos EUA o «sector privado destruiu 371.000 empregos em Julho», que os «EUA reforça apoios ao emprego», ou que o «FMI prevê o disparar da dívida pública» francesa e passando pelas optimistas que apresentam a «Indústria da zona euro com a menor contracção nos últimos onze meses», ou que reportam as declarações em que «Trichet prevê taxas de crescimento positivas apartir de 20010» – talvez seja mais recomendável não embalarmos nos primeiros cantos de sereia enquanto nos preparamos psicologicamente para o que o futuro ainda nos poderá reservar.

Uma análise mais realistas revelará rapidamente a existência de demasiadas variáveis por controlar para que o resultado final da sua interecção possa ser favorável.

Em poucas palavras, a simples conjugação de factores como:

  • a duração da actual crise (cerca de dezoito meses, se contados a partir dos primeiros sinais efectivos de decréscimo do PIB que ocorreram em Dezembro de 2007, mas mais de dois anos se contados desde o verdadeiro despoletar da crise que foi marcado pelo rebentamento da bolha do “subprime”, o que aproxima cada vez a actual crise da mítica Grande Crise de 1929, que se arrastou por uns longos 43 meses);
  • a constatação da evidência que tem sido a retracção no comércio mundial, com os grandes países exportadores, como a China, o Japão, a Alemanha, o Canadá, a França e o Reino Unido, a registarem quebras superiores a 30% em 2008 e os próprios EUA a ultrapassarem os 20%;
  • o aumento rápido e exponencial da dívida norte-americana face ao PIB;

constituem matéria suficiente para que ninguém possa manifestar, com consciência e sólidas básicas técnicas, grandes motivos de regozijo. Se quando observados de forma isolada qualquer um daqueles factores constitui por si só razão suficiente para alguma contenção na euforia, a sua conjugação (que poderá ocorrer de forma aleatória e até com a possibilidade de algum deles se repetir1) não poderá ser encarada salvo como perspectiva ainda mais negativa.

Mesmo para os incorrigivelmente optimistas e sem querer alimentar a discussão que os académicos norte-americanos há muito mantém sobre a forma da curva da recessão2, análises como a apresentada no final de Julho e na qual «Roubini prevê nova recessão» atendendo ao crescente endividamento governamental, à subida dos preços do petróleo e ao fracasso das medidas para relançamento do emprego decididas pela administração Obama, deverão ser levadas em conta.

Seja qual for o cenário a que se atribua maiores probabilidades, aquele que antevê o início da recuperação para breve afigura-se de todo em todo inverosímel e pobres daqueles que nele creiam e continuem a actuar como até aqui, proporcionando todas as condições aos principais responsáveis pela crise e afirmando, como o fez Obama que os «EUA começam a ver a luz ao fundo do túnel».
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1Um exemplo que rapidamente surge é o da fortíssima probabilidade de ocorrência nos próximos meses do agravamento da crise financeira provocado pelo disparar do incumprimento do crédito a particulares (cartões de crédito), isto numa fase em muitos bancos ainda continuam a apresentar resultados negativos por não conseguirem sanear as suas carteiras dos produtos financeiros ligados ao “subprime”.
2A questão da forma da curva da recessão prende-se com as previsões que os especialistas fazem para o seu desenrolar. Basicamente fala-se em quatro possíveis formas: a curva em “V”, no caso de uma recessão seguida de uma rápida recuperação; a curva em “U”, quando a recessão demora a atingir o seu ponto mas baixo e se lhe segue uma recuperação igualmente lenta; a curva em “W”, quando a uma recessão em fase de recuperação se sucede outra recessão e finalmente a curva em “L”, quando a recessão se prolonga no tempo sem sinais de retoma.

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