quarta-feira, 19 de agosto de 2009

BOAS NOTÍCIAS…

Embora já date de há alguns dias a novidade de que a «Economia portuguesa cresceu 0,3 por cento no segundo trimestre» (a par da alemã, da francesa e da grega e contrariamente ao que aconteceu na Espanha, em Inglaterra e no resto da Europa1) e que esse facto tenha sido prontamente utilizado para fins políticos, quer pelo governo quer pela oposição2, a habitual mistificação que rodeia este tipo de notícias justifica que a ela se regresse.

Primeiro para recomendar a óbvia leitura integral da notícia, que ultrapassa em muito o sensacionalismo do título e que logo no terceiro parágrafo chama a atenção para o facto da variação do PIB face ao período homólogo (segundo trimestre de 2008) ter sido negativa. Se isto ainda não for suficiente para convencer os mais renitentemente optimistas, bastará atentar nesta notícia do PUBLICO que assegura que o «Desemprego registado em Julho atinge novo pico dos últimos 30 anos» para entendermos que a crise ainda está demasiadamente longe de se poder afirmar resolvida.

Em abono da verdade se diga que isso mesmo foi referido pelo Ministro das Finanças e da Economia, Teixeira dos Santos, que assumiu uma posição bem mais realista3 que a do chefe do Governo que integra, pese embora este tenha corrigido posteriormente a afirmação inicial, quando «...reconheceu esta segunda-feira, em Amarante, que a actual situação da economia não permite concluir que Portugal esteja a viver o "fim da crise"»4.

Mas tudo isto será suficiente para ter explicado cabalmente a situação? Não o creio e por isso volto aqui a recordar que ainda existem demasiadas fragilidades e incógnitas na economia mundial (e em especial naquela que esteve na génese da tormenta que atravessamos) para alguém poder afirmar de forma consciente que vislumbra o fim da crise.

De forma rápida e sintética vejamos quais os principais sinais a monitorar:

  • a evolução da dívida externa, em termos de montantes e de pagamentos, das maiores economias mundiais e principalmente a norte-americana;
  • a evolução dos riscos de crédito e das falências das empresas financeiras;
  • a evolução do comércio mundial;

que nos poderão dar, estes sim, sinais bem mais concretos e consistentes sobre a verdadeira evolução da crise.

Assim, as notícias que vão surgindo sobre o regular aumento da dívida pública5, seja como resultante dos planos de relançamento das economias, seja como consequência dos milhares de milhões de unidades monetárias injectadas nos sistemas financeiros, a par com as que dão conta do aumento das taxas de incumprimento6, da manutenção das dificuldades no sector financeiro7 e das muitas dúvidas que ainda rodeiam as previsões da evolução do comércio mundial8, parecem bem mais propícias à formulação de reservas que ao euforismo que alguns apresentam, mesmo quando o «FMI diz que recuperação económica já começou».

Será por isso de estranhar que o debate sobre a manutenção ou a ultrapassagem de uma situação de recessão económica, embora importante em termos teóricos e académicos, se revista de um significado esotérico e de um valor seguramente reduzido para a generalidade dos cidadãos preocupados com realidades bem mais comezinhas – ainda terei salário no final do mês? – e para os quais o fundamental é o regresso a alguma normalidade económica e social?
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1 Esta informação pode ser confirmada em notícias como estas: «PIB regista subida inesperada na Alemanha e França», «PIB alemão regista crescimento surpresa no segundo trimestre»«França: PIB cresce 0,3% no segundo trimestre», «PIB da Espanha acentua quebra homóloga no 2º trimestre»
2 Como o atesta a notícia do PUBLICO, segundo a qual «Sócrates diz que o Governo está no caminho certo», ou a do DIÁRIO ECONÓMICO que refere que «Jardim diz que números do PIB são "eleitoralistas"».
3 Posição que o PUBLICO divulgou na notícia «Ministro das Finanças sustenta que ainda não é o fim da crise».
4 A notícia pode ser lida na íntegra, aqui.
5 Uma das mais esclarecedoras poderá ser esta do NOUVEL OBSERVATEUR, publicada em finais de Julho e segundo a qual o FMI prevê o disparar da dívida pública.
6 De que é exemplo esta, publicada pelo PUBLICO, anunciando que a «Taxa de incumprimento de empréstimos bate recorde nos EUA».
7 Como estas, do mesmo jornal, que refere que o «Freddie Mac solicita terceira ajuda ao Governo norte-americano» e estoutra que uns dias depois informa que a administração dispõe de «Novo plano na calha para ajudar pequenos bancos dos Estados Unidos».
8 Recorde-se que em Março deste ano o PUBLICO antevia que o «Comércio mundial vai cair 9 por cento este ano», mas em finais de Julho o JORNAL DE NOTÍCIAS, referindo previsões da Organização Mundial do Comércio, admitia que o «Comércio mundial cairá 10% este ano»

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