No sentido de uma melhor sistematização abordemos cada notícia de “per si”, começando, obviamente, pela primeira.
Normalmente associada este tipo de notícia costumam fazer-se ouvir as lamentações dos industriais do sector da construção civil e dos empresários do sector da mediação imobiliária, esquecendo a não menos importante mas completamente desorganizada opinião dos compradores. Por isso mesmo a simples leitura do resumo publicado na página da net do ECONÓMICO, que passo a transcrever:
«A crise no sector imobiliário provocou uma quebra de 18% na venda de imóveis, mas os preços das casas até aumentaram.
No ano passado venderam-se 173,6 mil imóveis em Portugal, cerca de 500 por dia. É preciso recuar até 1992 para se encontrar um valor tão baixo.
A queda de 18% nas vendas é a maior, pelo menos, dos últimos 15 anos, segundo dados do Ministério da Justiça. Ainda assim, o valor médio de cada casa não desceu.
Os imóveis urbanos foram vendidos a um preço médio de 126 mil euros, mais 1,3% face a 2007. Os primeiros números para este ano revelam que os valores das casas continuam a subir.»
afigura-se mais do que necessária, por não corroborar a ideia que poderia resultar da primeira leitura do título e denunciar o total absurdo que vive há vários anos o mercado imobiliário nacional, conjugando uma recessão na procura com a regular valorização dos imóveis.
Além da clara denúncia de mais este absurdo do “mercado”, a notícia reveste-se de importância acrescida (para mim e para os que há alguns anos vimos denunciando esta situação) pela raridade da sua objectividade – aqui aproveito para deixar os parabéns à jornalista Margarida Peixoto – e por confirmar aquilo que há poucas semanas escrevi no “post” «REALIDADES E FANTASIAS» quando denunciava a mistificação na notícia «Valor das casas sobe pela primeira vez desde 2007», do mesmo órgão de informação, que confundia (ou podia levar os leitores à confusão) preços de mercado do imobiliário com valores de avaliação bancária para efeitos de crédito à habitação.
Ainda sobre a questão da queda das vendas, e em jeito de comentário, sempre digo que aquela tendência se afigura perfeitamente natural e justificada por dois factores: o excesso de construção e o óbvio desajustamento entre os preços fixados para venda e a capacidade financeira dos possíveis compradores.
E este problema conduz-nos directamente ao teor da segunda notícia.
Alguém que regularmente acompanhe a evolução da economia nacional (e diga-se desde já que para o efeito não é indispensável, nem sequer necessário, qualquer formação especial) poderá estranhar que cada vez seja maior o número de famílias que não consegue suportar os encargos com a aquisição de habitação?
Quando é bem conhecida a realidade que tem levado ao aumento do rendimento do factor capital em detrimento do factor trabalho (como bem o descreveu ontem mesmo em entrevista ao I ONLINE o insuspeito ex-ministro Campos e Cunha e referindo apenas o efeito fiscal), haverá lugar a espanto, como noticiou o JORNAL DE NEGÓCIOS, quando o «Peso do malparado das famílias sobe quase 50% em dois anos»?
Esta questão do agravamento do incumprimento, se não fosse suficientemente grave pelo que representa de instabilidade e insegurança para as famílias (e por extensão para o conjunto da economia já fortemente abalada pela redução do consumo) merece especial atenção pelo que pode significar de informação sobre um possível agravamento da retracção do consumo e de factor da peso para o prolongamento da actual recessão ou para a formação de uma nova “onda” recessiva.
E mesmo que no caso português possa não ter peso suficiente para ditar o prolongamento da crise internacional, tê-lo-á seguramente no plano interno e constituirá mais um factor de preocupação para transformar o período de recuperação interno em mais um longo penar... até à próxima crise.
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