Míopes por décadas em que se recusaram a ver a realidade que os sustentou no poder ou na sua órbita, os actuais líderes – de que o inefável Alberto João Jardim é um lídimo representante – desdobram-se nas mais variadas afirmações e apelos. Desde as garantias que prontamente disponibilizaram ao sector financeiro (não apenas o grande responsável mas também o grande executor e dinamizador da confusão a que o Mundo foi conduzido) até aos discursos bem intencionados mas tecnicamente insustentáveis como o proferido por José Sócrates quando se afirmou desejoso de “salvaguardar os empregos de toda a gente”, ou os vagamente diferentes, como os de Manuela Ferreira Leite que entre uma ou outra crítica justa ou proposta tecnicamente defensável vai deixando passar incólume o essencial do discurso do “salvamento da economia”.
Mas de que economia falam eles? A economia bacoca e salazarenta do “pobrezinhos mas remediadinhos” que nunca deixou de ter ilustres cultivadores entre nós (desde que para eles e os grupos que representam não deixem de existir benesses e mordomias como as das chorudas pensões recebidas após curtos anos de actividade), a que originou o desequilibrado modelo de distribuição de riqueza que conhecemos, que exige cada vez maior número de anos e de horas semanais de trabalho, mas paga reformas e salários cada vez menores ou uma economia na qual os dois factores produtivos (capital e trabalho) sejam remunerados de forma equitativa e em função do efectivo contributo para o enriquecimento da sociedade.
Ouvindo políticos como Alberto João Jardim a apelar aos empresários que contemplem a redução de lucros como via para combater o desemprego, talvez os mais crédulos se sintam reconfortados, eu apenas me sinto mais revoltado e enojado pela enorme falta de vergonha e de carácter (sim, aqui pode-se empregar correctamente a expressão, tanto mais que há uma semanas foi notícia do EXPRESSO a limitação imposta pelo Governo Regional da Madeira à contratação de trabalhadores estrangeiros) daqueles que nos conduziram até esta situação e agora, candidamente (quais virgens púdicas...) apelam aos sentimentos de quem continua a ganhar com a crise que originou.
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[1] Ver as notícias do PUBLICO, do DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA e do JORNAL DA MADEIRA.
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