domingo, 16 de julho de 2006

OS MAUS RESULTADOS DOS EXAMES

Conforme noticiaram esta semana os jornais nacionais os resultados dos exames nacionais do 9º e 12 º ano de escolaridade voltaram a revelar resultados desanimadores.

Se as médias nos exames do 9ºano de matemática subiram ligeiramente (64% de negativas contra 70% no ano passado), já as de português (46% de negativas contra 23% em 2005) apresentam resultados francamente piores. Quanto ao 12 º anos que dizer da descida generalizada das médias?

Ano após ano voltamos a confrontar-nos com este tipo de resultados sem que efectivamente se comecem a vislumbrar qualquer tipo de melhorias, isto apesar dos discursos que repetidamente vamos ouvindo de políticos e técnicos desta área tão sensível.

Aliás, se calhar boa parte das explicações para este tipo de fenómenos não radica apenas num qualquer dos sectores intervenientes, antes sendo o reflexo da conjugação de todos eles.

Os resultados dos dois níveis de escolaridade analisados devem merecer, por características específicas de cada um deles, abordagens diferentes.

No caso dos exames do 9º ano, etapa que marca o encerramento do período de escolaridade obrigatória, parecem-me ainda mais preocupantes que os do 12º ano, uma vez que estes deveriam conferir a cada aluno uma certificação de capacidades e conhecimentos que os habilitaria ao início de uma vida activa na sociedade portuguesas.

Acontece que aquilo que verificamos é que cerca de 50% destes não demonstram ter adquirido essas tais capacidades. As razões para estes resultados não podem ser procuradas apenas num qualquer dos lados do problema (professores, alunos, pais, ministério da educação) mas na forma como estes diferentes grupos interagem e de como cada um deles pretende ver resolvidos os seus “problemas”.

Não bastará que o ministério avance com propostas de novas abordagens pedagógicas, novos programas curriculares ou novos horários de trabalho para os professores, enquanto pais e alunos continuarem a encarar a escolaridade obrigatória como isso mesmo – obrigatória; algo que se cumprirá de uma forma ou outra…

Dos professores há que esperar um melhor desempenho (que toda a gente sabe muitas vezes passa apenas por melhores condições de exercício da sua função) mas também um maior rigor e menor displicência perante o fenómeno da “obrigatoriedade”, predispondo-se mesmo a enfrentar o poder político que apenas pretende ver cumpridas s metas estatísticas do sucesso escolar.

Aos políticos (estejam eles no poder ou na oposição) deveremos exigir novas e mais rigorosas condições medidas para que a política de educação nacional saia do marasmo e do abandalhamento em que se encontra; a quem serve uma força de trabalho que após 9 anos de escolaridade se revela incapaz de desempenhar as mais básicas tarefas que envolvam o cálculo e a interpretação de instruções escritas? Como podem os nossos políticos continuar a falar em progresso tecnológico quando quase 50% dos nossos futuros trabalhadores obtém níveis de classificação como os anteriormente descritos?

Aos pais e encarregados de educação cabem dois importantíssimos papeis, caso realmente queiramos caminhar no sentido de inverter esta situação. Primeiro, o da fazer sentir aos seus filhos que a escola (com todas as suas virtudes e defeitos) é um local de aprendizagem e que esta tarefa de alguma forma se assemelha à que eles próprios executam nos seus locais de trabalho – isto é que a aprendizagem é um processo que exige esforço, vontade e trabalho para ser alcançada com sucesso – e que lá, como em todos os lugares, existem regras e objectivos mínimos para cumprir. Segundo, o de não aceitar de forma passiva os maus resultados dos seus filhos nem a falta de qualidade e de condições que as escolas possam apresentar, devendo procurar com a escola e os professores as soluções para o primeiro e com as associações de pais e ministério as soluções para a segunda.

Das escolas há que exigir os melhores esforços para o cumprimento da sua principal razão de existência – o ensino e a formação das gerações futuras – e que deixem de funcionar como meras estruturas de acolhimento de jovens durante algumas horas diárias.

Sendo verdade que em Portugal se despendem verbas proporcionalmente superiores às de outros países com a educação, a razão para os maus resultados apenas poderá estar na sua inadequada utilização, havendo então que criar mecanismos para uma maior responsabilização de quem gere esses meios (ministério da educação, autarquias e conselhos executivos das escolas) e, talvez, no desenvolvimento de novos órgãos de gestão mais orientados para os alunos (o tal objectivo de ensino e formação) e menos para questões acessórias.

O caso concreto dos exames do 12º ano parece-me justificar uma abordagem ligeiramente diferente, por se tratar de um nível de ensino orientado para o prosseguimento de estudos de nível superior, no qual os jovens já devem apresentar um nível de conhecimentos e um perfil mais adaptado a maiores níveis de exigência.

Porém, como bem sabemos, a generalidade dos jovens que ingressam no ensino secundário não podem deixar de apresentar todas as limitações decorrentes de um longo período de ensino obrigatório onde competências como o esforço e a dedicação nunca forma estimuladas. Pior ainda, o que na generalidade constatamos é que os professores deste nível de ensino se queixam dos reduzidos conhecimentos adquiridos na fase anterior.

Perante este “handicap” dificilmente os jovens conseguem recuperar o tempo perdido e ainda menos os professores conseguirão cumprir os objectivos que lhes são exigidos. Desta situação dificilmente poderão resultar alunos com níveis de preparação adequados ao ingresso no ensino superior, daí talvez os generalizados maus resultados nos exames nacionais e o acréscimo de dificuldade que muitos jovens encontram para o prosseguimento de estudos.

Se para as famílias com maiores rendimentos esta situação não é muito complicada (há sempre a hipótese de “enviar” o jovem para uma universidade privada ou para o estrangeiro), já para as de menores recursos esta fase converte-se num acréscimo de pressão sobre os jovens (que é precisamente aquilo para que eles estão menos preparados), com naturais reflexos nos resultados dos próprios exames.

Sem querer de modo algum desculpabilizar os jovens pela sua quota-parte de responsabilidade nos maus resultados dos exames nacionais, não tenho qualquer sombra de dúvida que estes são principalmente fruto das nossas incapacidades.


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