Tanto quanto tenho acompanhado as notícias, neste grupo encontram-se as maternidades em funcionamento nos hospitais de Barcelos, Elvas, Lamego, Oliveira de Azeméis, e Santo Tirso, devendo as futuras parturientes ser “canalizadas” para os hospitais alternativos mais próximos. Alega o ministro da saúde - Correia de Campos - que os blocos de obstetrícia daqueles hospitais não reúnem condições para assegurar o respectivo trabalho (argumento que obviamente toca profundamente qualquer cidadão minimamente consciente), mas que tem vindo a ser rebatido pelas populações directamente interessadas, autarcas e profissionais de saúde.
Para cúmulo o DIÁRIO DE NOTÍCIAS publicou hoje um relatório de avaliação de 50 hospitais com blocos de parto, elaborado pela Escola Nacional de Saúde Pública, que em certa medida não confirma a tese defendida pelo governo nem as escolhas dos blocos a encerrar. As conclusões deste trabalho foram de pronto contestadas pela Comissão Nacional de Saúde Materna e Neo-natal, que produziu o relatório em que o governo se baseou para avançar com o encerramento dos blocos de partos em causa, que reafirma a validade técnico-científica das suas propostas.
Como hoje refere com muita oportunidade José António Teixeira - Director do DN – no seu editorial: «Sabemos que o País não tem meios técnicos e humanos suficientes para manter uma rede concelhia de blocos de partos e que a concentração de alguns serviços pode assegurar maior segurança e eficácia no atendimento sanitário.«…» Tudo isto parece ser verdade. O encerramento de algumas maternidades será vantajoso para a saúde portuguesa. Admitamos que há racionalidade nesta opção e que ela não decorre apenas de um cálculo economicista, ainda que legítimo tendo em conta a debilidade dos nossos recursos» mas ficam-nos algumas questões por esclarecer:
- porque é que nunca foram apresentados de forma clara e precisa os critérios que determinaram a escolha dos blocos de partos a encerrar?
- porque é que às populações mais directamente afectadas pela medida continua a ser escamoteada a mais elementar das informações?
A estas dúvidas, que há alguns dias venho colocando a mim próprio, junto agora, depois de conhecidas as declarações do presidente do colégio de ginecologia-obstetrícia da Ordem dos Médicos, que ontem veio afirmar que existem quase duas dúzias de maternidades com sérias deficiências (reduzida dimensão e actividade) e que os obstetras deste país são insuficientes, estão envelhecidos e não se vislumbra a possibilidade da sua próxima substituição, mais outra:
para quando se prevê o encerramento do último dos blocos de parto deste país?
Embora colocada de forma humorística esta questão é tanto mais pertinente quanto outras estratégias se perfilam no horizonte no momento em que já se começa a falar no interesse dos hospitais privados em assegurar mais essa valência mediante prévio acordo com o Estado. O interesse dos grupos privados que actuam no sector da saúde vem, pelo menos aparentemente, refutar a tese da falta de obstetras, apenas faltando que venham a assegurar esse serviço nas mesmas instalações que o governo (a conselho da tal comissão) agora considera “perigosas”.
É por estas questões e pelo exemplo de outras ocorrências noutros sectores nacionais que as dúvidas que me assolam justificam respostas, as quais temos pleno direito de exigir àqueles a quem foi entregue a gestão da “coisa pública” nacional.
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