domingo, 11 de dezembro de 2005

A IMPORTÂNCIA DE UM PRÉMIO NOBEL DA PAZ

Teve ontem lugar a cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz 2005 a Mohamed ElBaradei, director da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).

Este organismo da ONU, com o qual divide o prémio, é chefiado pelo egípcio ElBaradei desde 1997 e tem por missão o controle da utilização de energia nuclear no planeta.

Figura de destaque, há vários anos, na cena mundial por via das funções que exerce foi particularmente envolvido no processo que antecedeu o início da Guerra do Golfo – a administração americana pretendia à viva força que a AIEA e o seu director confirmassem a existência de armamento de destruição massiva pelo regime iraquiano de Saddam Hussein – e mais tarde pela polémica gerada também pela administração americana aquando da sua recondução no actual cargo.

Há muito tempo que ElBaradei se tem revelado um defensor dos princípios de não proliferação de armamento nuclear, sendo simultaneamente muito criticado pelas ONG ambientalistas por a AIEA defender a utilização da energia atómica para fins pacíficos, mas durante a cerimónia de entrega do Prémio Nobel foi um pouco mais longe quando abertamente preconizou a criação de um ambiente universal de rejeição às armas nucleares, à semelhança do que se fez com a escravatura e o genocídio para que sejam vistas como um tabu e uma anomalia histórica.

Durante o discurso então proferido referiu ainda que existem no planeta 27 mil ogivas nucleares e que o importante era garantir que mais nenhum país obtenha armas nucleares, devendo ser as actuais potências atómicas (Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China, Índia, França, Paquistão e Israel) a apresentar iniciativas concretas de desarmamento, visando a criação de um sistema de segurança não dependente da dissuasão nuclear.

Esta tomada de posição é particularmente importante num momento em que se negoceia com o Irão o desenvolvimento do seu programa nuclear e em que a Coreia do Norte afirma também já dispor daquele tipo de armamento.

Para já está previsto para 21 desde mês o reatar das negociações entre a União Europeia e o Irão sobre esta matéria. A comunidade internacional receia que o programa nuclear que o Irão desenvolve culmine na produção de armamento (aliás esta não é a primeira tentativa de um país árabe aceder a esse tipo de tecnologia), sendo de recordar que o programa nuclear iraniano foi lançado nos 60 do século XX sob os auspícios e o apoio da administração americana da época e do líder local (Shah Mohammad Reza Pahlavi) e que este desígnio é visto com “bons olhos” pela comunidade árabe que questiona a legalidade do armamento nuclear israelita e a “ilegalidade” do seu.

Num período particularmente conturbado, caracterizado pelo conflito israelo-palestiniano, pela existência de um território árabe ocupado, pela propagação de ideais islâmicos fundamentalistas e pela existência de movimentos terroristas que nelas se fundamentam, as declarações de ElBaradei ganham todo um novo significado uma vez que trazem para a primeira ordem do dia a necessidade das partes dialogantes entenderem a inevitabilidade de um acordo mas também de cedências mútuas.

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