terça-feira, 6 de dezembro de 2005

DEBATES PRESIDENCIAIS I

Concluído o primeiro dos debates televisivos entre os principais candidatos presidenciais, mais importante que avaliar qual o vencedor é reflectir sobre aquilo que nos foi dado assistir.
O modelo escolhido – tipo frente a frente, moderado por dois jornalistas que vão colocando questões alternadamente a um e outro candidato, com poucas ou nenhumas hipóteses de debate – poderá beneficiar a clareza e a correcção das “entrevistas” mas revela-se uma solução demasiado asséptica e muito pouco esclarecedora sobre as reais capacidades argumentativas e sobre o grau de preparação de cada um dos candidatos.

A oportunidade escolhida peca por antecipar o período de formalização das candidaturas e poderá deixar de fora outros intervenientes na campanha e no acto eleitoral que, justamente, se poderão queixar de tratamento menos favorável.

Sobre o debate propriamente dito, quase toda a gente concordará que aquele a que ontem assistimos revelou-se particularmente monótono e pouco terá contribuído para dinamizar a participação do eleitorado na escolha do primeiro magistrado da nação.

Analisando a actuação dos dois candidatos diria que Cavaco Silva não me surpreendeu (nem pela positiva nem pela negativa), manteve a postura majestática a que já nos habituou, debitou o mesmo discurso pobre de ideias e revelou-se particularmente ambíguo sempre que confrontado com questões particularmente concretas (caso do envio de tropas para o Iraque e da nomeação e demissão do anterior governo) e desinformado (quando não respondeu se teria promulgado a recente legislação sobre os militares).

Manuel Alegre também não surpreendeu, revelou um discurso fluído (outra coisa não era de esperar de alguém com o traquejo parlamentar que ele tem), ideias mais ou menos estruturadas e, principalmente, distinguiu-se pela positiva nas respostas assertivas às questões concretas sobre o envio de tropas portuguesas para o estrangeiro (quando afirmou que consigo na presidência não haveria GNR no Iraque) e sobre a polémica em torno do governo de Santana Lopes, mas falhou quando invocou o desconhecimento da legislação para iludir a questão se teria ou não promulgado as recentes alterações relativas aos militares.

Em resumo, ambos jogaram para fortalecer os respectivos eleitorados, sem rasgos nem riscos excessivos.