terça-feira, 20 de setembro de 2005

POLÉMICA NA UNIVERSIDADE

Publicadas as listagens da 1ª fase de colocação de candidatos ao ensino superior, surgem críticas relativamente à distribuição, determinada pelo governo, entre as escolas localizadas no litoral e no interior.
Mais do que discutir o número de vagas por curso, centra-se esta crítica no facto de se ter fomentado o seu aumento nas escolas do interior em detrimento das do litoral. Queixam-se os responsáveis por estas últimas de que a limitação imposta longe de se traduzir num aumento da procura das suas congéneres do interior resultou num aumento da procura das escolas privadas.
O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), citado pelo
Diário de Notícias, contesta a decisão que data do tempo de Pedro Lynce (ministro do Ensino Superior do Governo de Durão Barroso) e com a qual se pretendia aumentar a procura das universidades construídas no interior levando estas a ganhar novos alunos em detrimento das universidades mais antigas, por via da fixação dos “numerus clausus”.
Face à redução do número de vagas os alunos do litoral estão a optar pela inscrição nas universidades privadas, na zona litoral, em detrimento das congéneres oficiais localizadas no interior, concluindo o CRUP que as do Porto e de Lisboa estão a ser prejudicadas ao verem reduzida a sua dotação orçamental.
Esta polémica, centrando-se no problema do financiamento das universidades, esquece uma outra questão que me parece igualmente importante: a tentativa de deslocalização de alunos do litoral para o interior representa, na prática, uma forma de deterioração da qualidade do ensino.
Nada me move contra a existência de múltiplas ofertas de formação universitária, desde que estas apresentem idênticas características (que não é totalmente o caso entre universidades e politécnicos) e, principalmente, idêntica qualidade.
Começam as diferenças quando se compara ensino universitário com ensino politécnico (sabendo-se que o primeiro visa proporcionar uma formação técnica orientada para o desenvolvimento das capacidades de concepção, de inovação e de análise crítica, enquanto o segundo visa um formação técnica com vista ao exercício de actividades profissionais) e quando o nível e qualidade dos respectivos corpos docentes não é homogéneo. Para os jovens não pode ser indiferente a opção entre uma “velha” universidade e um dos jovens institutos politécnicos, tanto mais que eles não ignoram que o mercado de trabalho distingue, e de que maneira, os dois tipos de escolas.
Uma política educativa, deste ou de qualquer outro governo, que ao nível do ensino superior não vise proporcionar aos nossos jovens as melhores condições de acesso (começando por uma adequada preparação ao nível do ensino básico e secundário) às melhores escolas (dotadas de infraestruturas físicas, financeiras e humanas adequadas) acrescidas da disponibilização de adequadas condições de instalação (residências universitárias) àqueles que delas necessitem, estará a seguramente a servir interesses particulares (sejam os dos proprietários das universidades privadas sejam os dos promotores de institutos politécnicos) e a hipotecar as poucas hipóteses de, num futuro próximo, virmos a dispor de um corpo de técnicos credenciados e capazes de integrarem de forma plena e competitiva um mercado de trabalho cada vez mais alargado e de contribuírem para a formação de novas gerações com ainda melhores capacidades e competências.

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