segunda-feira, 5 de setembro de 2005

ESPANTOSO, OU TALVEZ NÃO!

Foi sem qualquer tipo de espanto que acabo de ler a notícia, numa página da AGÊNCIA FINANCEIRA, que os combustíveis voltaram a aumentar.

No passado sábado a GALP procedeu a novo aumento do preço de referência dos combustíveis, sublinha o referido artigo que este aumento se verifica num momento em que a tendência para a subida do preço do “crude” parece abrandar, como efeito do anúncio da redução de 60 milhões de barris nos “stocks” de petróleo por parte dos países industrializados, justificando-o em virtude das variações de preço do barril não terem impacto imediato directo nos combustíveis.

Aqui é que começa a parte interessante de toda esta questão. Creio que toda a gente concorda que há muito acabaram os tempos dos combustíveis baratos (ver o “post” O PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS. FATALIDADE, INEVITABILIDADE OU INTENCIONALIDADE? de 29 de Agosto) mas estão ainda por esclarecer muitas questões, quer sobre as melhores alternativas energéticas, quer sobre as verdadeiras razões que estão subjacentes a este novo período de alta de preços.

Contudo, aquilo para que quero chamar a vossa atenção é, precisamente, para a contradição em que se baseia toda a notícia referida.

Primeiro, as gasolineiras fundamentam as constantes subidas de preços com idêntico comportamento do barril de “crude”, mesmo quando estes movimentos parecem antagónicos. Para entendermos este “fenómeno” importa recordar que o método de formação de preços dos bens e serviços alvo de vasto comércio mundial resulta de variações que são registadas num de dois mercados específicos – o mercado à vista ou “spot” e o mercado a prazo ou de derivados – que funcionam como orientadores de todas as transacções. Assim, as variações no mercado a prazo (aqueles a que as notícias referem como os preços do barril em Nova Iorque ou Londres) traduzem as expectativas de preço para a mercadoria num prazo até 3 meses, ou seja quando se fala num preço de 70 USD por barril está-se a dizer que a expectativa, naquela data, do mercado é a de que num prazo de 3 meses o barril de “crude” se possa transaccionar àquele preço.

Segundo, as gasolineiras continuam a jogar habilmente com a distorção de conceitos e o desconhecimento da generalidade dos seus clientes quando veiculam notícias com o cariz da que referi, não pela inexactidão dos dados mas pela desinformação que os envolve.

Apesar da ausência de dados reais, que não consegui encontrar, que permitissem estabelecer uma relação entre as variações dos preços do barril de “crude” (PREÇOS INDICATIVOS A PRAZO) e os dos combustíveis vendidos neste país (cujos preços de referência são fixados pela GALP ENERGIA), estou seguro que esta confirmaria a sensação que todos temos de que os preços de mercado sobem rapidamente a variações positivas do preço indicativo (barril de “crude”) e com velocidade muito mais moderada ou nula a variações de sinal contrário (porque, conforme se escreve no artigo, os efeitos das variações não têm impacto imediato nos combustíveis).

Esta actuação, que me parece prefigurar uma típica fraude comercial, continua a desenrolar-se sob o olhar dos nossos governos, talvez até beneficiando de um beneplácito justificado pela expectativa de crescentes encaixes que o Estado arrecada com a dupla imposição fiscal (ISP + IVA) que pratica sobre os produtos petrolíferos.

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