A quantas mais
cimeiras europeias e outras inconclusivas reuniões de alto nível iremos
assistir até que se alcance a conclusão de que continuamos a ser dirigidos por
pessoas desprovidas das condições mínimas para o exercício daquelas funções?
Quando até já
entre os analistas mais moderados cresce o número dos que alertam para os
perigos duma estratégia exclusivamente centrada em políticas restritivas (como
é o caso de Paul de Grauwe, o «Economista
belga aconselha Vítor Gaspar a “não exagerar” na austeridade» ou a também
recente afirmação do prémio Nobel Joseph Stiglitz, a uma publicação espanhola,
de que «Com
as actuais políticas em Espanha e na Europa não há luz ao fundo do túnel»),
parece cada vez mais evidente que o real objectivo dos líderes europeus há
muito deixou de ser a Europa; para uns tratar-se-á de mera estratégia de
sobrevivência política, mas para outros poderá até ser algo ainda menos nobre e
representar apenas a defesa dos seus interesses pessoais.
Com a gestão
da coisa pública entregue a políticos profissionais (atribuindo-se aqui ao
qualificativo profissional o significado daquele que nunca se provou capaz de
exercer outra actividade), com o desinteresse dos eleitores (resulte este de um
comportamento racional ou de mera reacção às condicionantes e às estratégias desenhadas
para os desmotivar), a ascensão dos menos capazes passou a estar assegurada e o
seu enfeudamento a objectivos contrários ao do interesse geral cada vez mais
facilitado.
As limitações
técnicas e intelectuais estão bem patentes em afirmações do género da que não
existem alternativas ou de que desobedecer aos credores significaria a
bancarrota e a incapacidade de pagamento de salários à função pública. A
incapacidade argumentativa é substituída pela estratégia da aterrorização das
populações e estendida agora até ao orçamento da UE, que se pretende enredar
nas mesmas peias idiossincráticas e aplicar-lhe a mesma lógica suicidária.
A prova da
completa subversão dos mais elementares princípios éticos revela-se quando a
discussão sobre o novo orçamento comunitário se realiza entre defensores e
opositores do seu aumento mas, anacronismo máximo, entre os defensores se
encontram alguns dos mais férreos praticantes da austeridade orçamental nos
estados que dirigem (caso de Passos Coelho), sob o argumento de que a
austeridade interna necessita das medidas de compensação que o orçamento
comunitário deve proporcionar.
Como se não
bastasse a incongruência pessoal dalguns dos intervenientes, o debate é tanto
mais absurdo quanto se está agora a tentar subverter os princípios estruturantes da UE – a solidariedade e a coesão – num orçamento
que, à semelhança dos congéneres nacionais, se pretende transformar num
exercício contabilístico de redução cega de despesas. É que a prevalência das
teses do equilíbrio orçamental a qualquer preço e a sua extensão ao conjunto da
UE, precisamente quando dão cada vez mais evidentes os sinais de abrandamento
das principais economias (leia-se Alemanha e França), apenas poderá resultar no
alastramento da catástrofe que com toda a evidência já se abate sobre os países
periféricos, de pouca consolação podendo servir o facto dos “capitães” se virem
a afundar com a nau.
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