quarta-feira, 28 de novembro de 2012

TITÂNICAS CONFUSÕES


A quantas mais cimeiras europeias e outras inconclusivas reuniões de alto nível iremos assistir até que se alcance a conclusão de que continuamos a ser dirigidos por pessoas desprovidas das condições mínimas para o exercício daquelas funções?

Quando até já entre os analistas mais moderados cresce o número dos que alertam para os perigos duma estratégia exclusivamente centrada em políticas restritivas (como é o caso de Paul de Grauwe, o «Economista belga aconselha Vítor Gaspar a “não exagerar” na austeridade» ou a também recente afirmação do prémio Nobel Joseph Stiglitz, a uma publicação espanhola, de que «Com as actuais políticas em Espanha e na Europa não há luz ao fundo do túnel»), parece cada vez mais evidente que o real objectivo dos líderes europeus há muito deixou de ser a Europa; para uns tratar-se-á de mera estratégia de sobrevivência política, mas para outros poderá até ser algo ainda menos nobre e representar apenas a defesa dos seus interesses pessoais.

Com a gestão da coisa pública entregue a políticos profissionais (atribuindo-se aqui ao qualificativo profissional o significado daquele que nunca se provou capaz de exercer outra actividade), com o desinteresse dos eleitores (resulte este de um comportamento racional ou de mera reacção às condicionantes e às estratégias desenhadas para os desmotivar), a ascensão dos menos capazes passou a estar assegurada e o seu enfeudamento a objectivos contrários ao do interesse geral cada vez mais facilitado.

As limitações técnicas e intelectuais estão bem patentes em afirmações do género da que não existem alternativas ou de que desobedecer aos credores significaria a bancarrota e a incapacidade de pagamento de salários à função pública. A incapacidade argumentativa é substituída pela estratégia da aterrorização das populações e estendida agora até ao orçamento da UE, que se pretende enredar nas mesmas peias idiossincráticas e aplicar-lhe a mesma lógica suicidária.


A prova da completa subversão dos mais elementares princípios éticos revela-se quando a discussão sobre o novo orçamento comunitário se realiza entre defensores e opositores do seu aumento mas, anacronismo máximo, entre os defensores se encontram alguns dos mais férreos praticantes da austeridade orçamental nos estados que dirigem (caso de Passos Coelho), sob o argumento de que a austeridade interna necessita das medidas de compensação que o orçamento comunitário deve proporcionar.

Como se não bastasse a incongruência pessoal dalguns dos intervenientes, o debate é tanto mais absurdo quanto se está agora a tentar subverter os princípios estruturantes da UE – a solidariedade e a coesão – num orçamento que, à semelhança dos congéneres nacionais, se pretende transformar num exercício contabilístico de redução cega de despesas. É que a prevalência das teses do equilíbrio orçamental a qualquer preço e a sua extensão ao conjunto da UE, precisamente quando dão cada vez mais evidentes os sinais de abrandamento das principais economias (leia-se Alemanha e França), apenas poderá resultar no alastramento da catástrofe que com toda a evidência já se abate sobre os países periféricos, de pouca consolação podendo servir o facto dos “capitães” se virem a afundar com a nau.

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