Não deixa de
ser curioso que na mesma semana sejam conhecidos os novos governantes das duas
principais economias mundiais (EUA e China), mesmo quando os processos de
escolha/nomeação possam parecer diametralmente opostos.
Encerrados os
dois circos – mais mediático o norte-americano, mais opaco (para usar a
definição deixada por Bernardo Pires de Lima na crónica «Dois
modelos, três ‘impérios’») o chinês – resta aos “espectadores”
prepararem-se para enfrentar as agruras e as incertezas do dia-a-dia que nem um
nem o outro pretendem realmente alterar. Do lado da ainda maior, mas cada vez
mais frágil, economia norte-americana, as contradições próprias dum sistema
financeiro que continua à beira da implosão (não esqueçamos que por opção
própria e concordância dos poderes políticos permanecem por resolver os
sofisticados contratos de derivados cujos valores totais permanecem
desconhecidos) e dum sistema económico exclusivamente orientado para o lucro
duma minoria, continuam a avolumar-se os sinais de deterioração das condições
de vida das populações enquanto do lado da economia chinesa é cada vez mais
evidente o esgotamento do modelo grandemente baseado nos baixos custos
salariais.
O reeleito
Obama ou os seguramente nomeados Xi Jinping e Li Keqiang (os actuais vice e já designados futuros
presidente e primeiro-ministro do governo chinês para a próxima
década) terão que enfrentar um mundo diferente daquele que terão imaginado (e
desejariam), no qual a desagregação das estruturas produtivas poderá nem sequer
constituir o principal desafio, face às previsíveis convulsões sociais – a
resistência da classe média americana à sua extinção e o desejo de maior
protagonismo político e social da sua congénere chinesa – que deverão
enfrentar.
É que se Xi Jinping, o
futuro presidente chinês, se deverá preparar para enfrentar a grande fonte de descontentamento
popular, que é o aumento das desigualdades sociais, ou até um crescendo na “guerra”
de informação fomentada pelo Ocidente em vésperas do XVIII Congresso do Partido
Comunista da China (como é claro exemplo as recentes notícias sobre a «Fortuna
escondida do primeiro-ministro chinês» ou a de que a «China
censura notícia do NYT sobre fortuna do primeiro-ministro»), o reeleito
Obama terá pela frente a delicada tarefa de agradar aos grandes conglomerados
empresariais e a uma evanescente classe média em resultado das políticas que
continuam a privilegiar a concentração da riqueza num número cada vez menor de
actores sociais.
E se o equilíbrio
já se advinha difícil, imagine-se como será quando dentro em breve as
“instruções de uso” vierem escritas em mandarim.
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