quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O FUTURO SINO-AMERICANO


Não deixa de ser curioso que na mesma semana sejam conhecidos os novos governantes das duas principais economias mundiais (EUA e China), mesmo quando os processos de escolha/nomeação possam parecer diametralmente opostos.

Encerrados os dois circos – mais mediático o norte-americano, mais opaco (para usar a definição deixada por Bernardo Pires de Lima na crónica «Dois modelos, três ‘impérios’») o chinês – resta aos “espectadores” prepararem-se para enfrentar as agruras e as incertezas do dia-a-dia que nem um nem o outro pretendem realmente alterar. Do lado da ainda maior, mas cada vez mais frágil, economia norte-americana, as contradições próprias dum sistema financeiro que continua à beira da implosão (não esqueçamos que por opção própria e concordância dos poderes políticos permanecem por resolver os sofisticados contratos de derivados cujos valores totais permanecem desconhecidos) e dum sistema económico exclusivamente orientado para o lucro duma minoria, continuam a avolumar-se os sinais de deterioração das condições de vida das populações enquanto do lado da economia chinesa é cada vez mais evidente o esgotamento do modelo grandemente baseado nos baixos custos salariais.

O reeleito Obama ou os seguramente nomeados Xi Jinping e Li Keqiang (os actuais vice e já designados futuros presidente e primeiro-ministro do governo chinês para a próxima década) terão que enfrentar um mundo diferente daquele que terão imaginado (e desejariam), no qual a desagregação das estruturas produtivas poderá nem sequer constituir o principal desafio, face às previsíveis convulsões sociais – a resistência da classe média americana à sua extinção e o desejo de maior protagonismo político e social da sua congénere chinesa – que deverão enfrentar.


É que se Xi Jinping, o futuro presidente chinês, se deverá preparar para enfrentar a grande fonte de descontentamento popular, que é o aumento das desigualdades sociais, ou até um crescendo na “guerra” de informação fomentada pelo Ocidente em vésperas do XVIII Congresso do Partido Comunista da China (como é claro exemplo as recentes notícias sobre a «Fortuna escondida do primeiro-ministro chinês» ou a de que a «China censura notícia do NYT sobre fortuna do primeiro-ministro»), o reeleito Obama terá pela frente a delicada tarefa de agradar aos grandes conglomerados empresariais e a uma evanescente classe média em resultado das políticas que continuam a privilegiar a concentração da riqueza num número cada vez menor de actores sociais.

E se o equilíbrio já se advinha difícil, imagine-se como será quando dentro em breve as “instruções de uso” vierem escritas em mandarim.

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