Poderia muito
bem ser o título de qualquer notícia sobre a mais recente iniciativa europeia,
que culminando com uma greve geral em Portugal e Espanha, contou com
manifestações e greves parciais em vários países europeus.
É claro que
múltiplas e fundadas são as razões que levaram àquela mobilização, mas o que
ressalta da leitura da maioria dos cabeçalhos nacionais é o relato da violência
que ocorreu nas vizinhanças da Assembleia da República e que o DN trouxe para uma sua primeira página, sob o
título «Violência contra a austeridade chegou a Portugal», o destaque do PUBLICO para «Confrontos junto à AR», ou o de
O PRIMEIRO DE JANEIRO, que
escreve a toda a largura da primeira página «Luta endurece – Graves confrontos
em Portugal e Espanha». Sobre as substantivas razões para o descontentamento
generalizado pouco mais se lê (ou ouve) que as habituais banalidades, enquanto
comentadores como João Lemos Esteves, escreve no EXPRESSO que «Greve
Geral: o PCP e o BE aliaram-se a Passos Coelho!» confundindo as razões da
greve – contestação das políticas recessivas do actual governo – com os efeitos
dos confrontos que encerraram as manifestações em Lisboa.
Por
identificar e explicar ficam a crescente degradação da situação económica
nacional, o visível fracasso da “receita” da “austeridade expansionista” e o
agravamento da divergência entre a economia nacional e as dos nossos parceiros
comunitários, tanto mais que no próprio dia da greve se ficou a saber que «PIB
português cai 3,4% e agrava queda desde o início da crise» e que «Taxa
de desemprego bate novo recorde e chega a 15,8%». Enquanto se dá voz as
presidenciais banalidades, como a de afirmar que a «Da minha
parte não deixei de trabalhar», ou de canhestras tentativas de atemorização
colectiva, como a taxativa afirmação de que a «Violência
veio de “pessoas que querem destruir a sociedade”», continuam a primar pela
falta de espaço na imprensa nacional as opiniões daqueles que pugnam por
soluções verdadeiramente alternativas ou até dos que apenas denunciam o
anacronismo da realidade.
Não bastam
vozes, como a de José Vítor Malheiros, que denunciem que «A
greve geral não é suficiente» e que com maior ou menor responsabilidade dos
meios de comunicação a generalidade da indignação erra o alvo. Num artigo
reservado a assinantes da sua edição on-line
(razão pela qual o endereço é duma página da edição francesa do COURRIER
INTERNATIONAL), escreve aquele jornalista do PUBLICO que a generalidade dos
cidadãos, ao alimentar processos de mera denúncia de privilégios onde «…algumas centenas de ingénuos se indignam
contra os salários dalgumas estrelas televisivas, nada dizem sobre os juros
cobrados a Portugal a título de “ajuda exterior”, do escândalo do BPN (banco
privado que à beira da falência foi nacionalizado em 2008 e depois socorrido pelo
Estado com 5,1 mil milhões de euros, antes de ser vendido por 40 milhões a um
banco angolano) e das Parcerias Público-Privadas (que era suposto aliviarem a
dívida pública mas que ao contrário ajudaram a agravá-la), bem como das
vantagens escandalosamente acordadas aos bancos, das isenções fiscais às
grandes empresas, da legalizada evasão fiscal dessas mesmas empresas que
deslocalizam a sua sede social, das transferências de dinheiro para os paraísos
fiscais ou ainda da ausência de imposto sobre os rendimentos de capital», está
a embarcar numa estratégia de contra informação que apenas beneficia os
promotores das políticas de aniquilação do Estado Social.
Além deste
aviso, outros devem ser feitos, nomeadamente a denúncia frontal de afirmações
absurdas como a da inexistência de alternativas a uma política que não visa o
fim anunciado – redução da dívida e dos desequilíbrios orçamentais – antes
serve claramente uma agenda político-económica de aumento da concentração da
riqueza nacional num número ainda menor de beneficiados. A isto importa
contrapor iniciativas de claro interesse nacional, como a da auditoria à dívida
tendo em vista a sua redução pedagógica (separando a dívida legítima,
merecedora de amortização, da ilegítima), a renegociação de prazos e taxas de
acordo com a capacidade de produção de riqueza de cada Estado, enquanto no
plano europeu se desenvolvem esforços para a implementação de políticas que
reformulem o modelo de funcionamento do BCE (convertendo-o naquilo que sempre
devia ter sido: o financiador directo dos estados-membros) e anulem os
privilégios de acesso a liquidez abundante e barata de que o sector financeiro
tem sido exclusivo beneficiário.
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