sábado, 10 de novembro de 2012

MERKEL KLAPPE! [1]


É quase incontornável que nas vésperas duma visita oficial da chanceler alemã e duma greve geral ibérica (acontecimento nunca visto) que por decisão da CES (Confederação Europeia de Sindicatos) será acompanhada por acções de solidariedade (greves, manifestações, concentrações, etc.) em todo o espaço europeu, se retome a permanentemente adiada questão do modelo de funcionamento (e de financiamento) europeu, tanto mais que nesta semana o presidente do BCE, Mario Draghi, fez soar o alarme quando afirmou que os «Efeitos da crise chegam à economia alemã».

De forma mais clara afirmou, segundo esta notícia do PUBLICO, que os «…acontecimentos financeiros na Alemanha são o espelho dos acontecimentos financeiros no resto da zona euro. E isto significa que as medidas para assegurar a estabilidade da zona euro no seu conjunto também beneficiarão a Alemanha…», cujo PIB é em boa medida (40%) resultado do comércio com os restantes parceiros europeus de quem depende para obter 65% do investimento estrangeiro directo.


Esta realidade que constitui a forte interdependência entre os diferentes estados-membros da UE, que muitos persistem em negar, deveria ter marcado desde a primeira hora a agenda e o processo para enfrentar a questão das dívidas públicas denominadas em euros. Lembre-se, a propósito, que no biénio 2008-2009, quando esteve no auge a necessidade de recursos a fundos públicos para o financiamento dum sector financeiro descapitalizado em resultado das estratégias especulativas e absurdamente arriscadas a que as agências de “rating” deram a maior cobertura, foram injectados biliões de unidades monetárias nos bancos e nas seguradoras “too big too fail” não se fizeram ouvir as vozes dos “adoradores do equilíbrio orçamental”, apenas quando os encargos passaram para a responsabilidade dos contribuintes é que começou a ser agitado o espantalho dos défices públicos.

É evidente que tudo isto só atingiu as actuais proporções graças à cada vez mais reconhecida inépcia dos responsáveis políticos, nacionais e europeus, e à sua intransigência na introdução de alterações aos mecanismos de financiamento da moeda única. Esta questão continua a marcar a actualidade europeia e tem sido cada vez mais utilizada pelos críticos do euro para apelarem ao fim deste modelo de União Económica e Monetária, de que é exemplo um recente artigo de opinião da autoria de João Ferreira do Amaral publicado no ECONÓMICO, onde o autor defende o regresso às moedas nacionais como única via para que os Estados recuperem o indispensável poder de criação de moeda, esquecendo a hipótese tantas vezes aqui defendida de alteração dos estatutos do BCE para permitir que este financie directamente as necessidades monetárias dos estados-membros. Esta solução, além de bem mais simples de aplicar que um sempre delicado regresso a 17 moedas nacionais, teria ainda a virtualidade de reduzir significativamente o poder que o sector financeiro hoje detém sobre os Estados mantidos reféns dum mau acordo.

Não contentes com a defesa da verdadeira aberração que encerra o Tratado da União, os defensores do virtuosismo orçamental ainda se arrogam a prerrogativa de tratar os opositores aos seus dogmas ideológicos como perdulários merecedores das flagelações austeritárias com pretendem resolver a chamada crise das dívidas soberanas.

É nesta linha dogmática que se insere a actuação e o discurso da chanceler alemã, como se pode comprovar pelas notícias sobre a sua intervenção num Congresso regional do seu partido (CDU) que teve lugar no passado fim-de-semana e onde, fazendo tábua rasa da realidade que a rodeia e que já é caracterizada como a «Europa do desemprego rasteja na economia e afoga-se na dívida», se ouviu que «Merkel pede à Europa austeridade e esforços durante mais cinco anos».

Perante os medonhos (talvez até já ireparáveis) danos que dirigentes manifestamente incompetentes, com Angela Merkel à cabeça, têm infligido ao processo europeu e aos seus povos resta-me um único apelo: Cala-te Merkel!


[1] Tradução para alemão da expressão «Cala-te Merkel!», adaptando a celebrizada pelo rei de Espanha quando interpelou o presidente venezuelano durante uma conferência ibero-americana com um exaltado «Por qué no te callas?».

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