A iminência de
nova invasão israelita do território palestiniano de Gaza traz à memória não
apenas a sensação de “déjá vu” (esta
será a terceira vez – a primeira ocorreu em 1996 com a primeira invasão do
Líbano, a segundo há apenas quatro anos e também orientada contra Gaza – que a
aproximação dum acto eleitoral israelita é precedido, qual pré campanha
política, duma campanha militar contra territórios vizinhos) mas também uma
flagrante situação de abuso da força.
Outras
opiniões sustentam que o reacender do conflito israelo-palestiniano deve ser
encarado como um aviso (mais um) ao Irão (potência regional que apoia o Hamas,
movimento palestiniano que governa o território de Gaza) e um ensaio para
aquilatar as reacções dos vizinhos estados árabes (maioritariamente sunitas e
em oposição ao regime xiita iraniano) e da reeleita administração Obama,
preparando um eventual ataque directo às instalações nucleares iranianas. Outra
hipótese liga-se à recente notícia de que a «Autoridade
Palestiniana pede estatuto de estado observador às Nações Unidas», opção
tomada face ao insucesso da tentativa de reconhecimento pleno ensaiada há um
ano, situação que, por dispensar intervenção do Conselho de Segurança, não se
deverá agora repetir e que abrirá as portas a novas vias de pressão diplomática
sobre Israel, sem esquecer que do lado israelita prossegue a política de
colonização dos territórios ocupados – como refere a notícia do início deste
mês de que «Israel
vai construir mais 1.200 casas para colonos» em Jerusalém Oriental –
continua à revelia das regras internacionais que proíbem a ocupação permanente
de territórios militarmente ocupados.
É claro que a
justificação israelita para o recrudescimento das hostilidades é sustentável –
o seu território continua a ser flagelado por meio de rudimentares rockets de fabrico palestiniano – e
constitui ainda um importante argumento no debate político interno, mas de modo
algum pode ser comparável ao poder de destruição dum Tsahal (o exército israelita) armado e municiado com o mais
sofisticado que existe no ramo. Não deve porém esquecer-se que um dos primeiros
alvos selectivos a ser abatido foi Ahmed Jabari, chefe da ala militar do Hamas
que, apresentado pelo governo de Netanyahu como um terrorista, desempenhava a
importante tarefa de controlar os ímpetos dos grupos armados mais radicais e
assim assegurar o respeito da trégua firmada com Israel (isto mesmo é afirmado
pelo jornalista israelita Aluf Benn no seu artigo «Israel
killed its subcontractor in Gaza», publicado no HAARETZ).
Não deixa de
ser curioso que a mais antiga e bem estruturada democracia no Médio Oriente
(assim o proclamam aos quatro ventos judeus e americanos) sinta regular
necessidade de recorrer ao uso da força para se sustentar e, ironia das
ironias, nem sequer a exerce sobre o seu povo, mas sobre os povos vizinhos,
tudo isto enquanto mantém abertas todas as alternativas (e as acções militares,
pois na última noite «Israel
volta a bombardear uma centena de alvos em Gaza») mal se soube que o «Hamas
anuncia acordo para o cessar-fogo mas Israel avisa que “ainda não chegámos lá”»,
embora um pouco mais tarde tenha sido anunciado que a mediação egípcio-americana
terá alcançado um «Acordo
para cessar-fogo em Gaza» de efeito e duração duvidosa uma vez que não contemplará os problemas resultante do bloqueio militar que Israel continua a
impor àquele território.
Os próximos
dias dirão da durabilidade de mais um acordo e dos reais efeitos, na região e
no mundo, de mais este episódio.
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