quarta-feira, 21 de novembro de 2012

MÍSSEIS E VOTOS


A iminência de nova invasão israelita do território palestiniano de Gaza traz à memória não apenas a sensação de “déjá vu” (esta será a terceira vez – a primeira ocorreu em 1996 com a primeira invasão do Líbano, a segundo há apenas quatro anos e também orientada contra Gaza – que a aproximação dum acto eleitoral israelita é precedido, qual pré campanha política, duma campanha militar contra territórios vizinhos) mas também uma flagrante situação de abuso da força.


Outras opiniões sustentam que o reacender do conflito israelo-palestiniano deve ser encarado como um aviso (mais um) ao Irão (potência regional que apoia o Hamas, movimento palestiniano que governa o território de Gaza) e um ensaio para aquilatar as reacções dos vizinhos estados árabes (maioritariamente sunitas e em oposição ao regime xiita iraniano) e da reeleita administração Obama, preparando um eventual ataque directo às instalações nucleares iranianas. Outra hipótese liga-se à recente notícia de que a «Autoridade Palestiniana pede estatuto de estado observador às Nações Unidas», opção tomada face ao insucesso da tentativa de reconhecimento pleno ensaiada há um ano, situação que, por dispensar intervenção do Conselho de Segurança, não se deverá agora repetir e que abrirá as portas a novas vias de pressão diplomática sobre Israel, sem esquecer que do lado israelita prossegue a política de colonização dos territórios ocupados – como refere a notícia do início deste mês de que «Israel vai construir mais 1.200 casas para colonos» em Jerusalém Oriental – continua à revelia das regras internacionais que proíbem a ocupação permanente de territórios militarmente ocupados.

É claro que a justificação israelita para o recrudescimento das hostilidades é sustentável – o seu território continua a ser flagelado por meio de rudimentares rockets de fabrico palestiniano – e constitui ainda um importante argumento no debate político interno, mas de modo algum pode ser comparável ao poder de destruição dum Tsahal (o exército israelita) armado e municiado com o mais sofisticado que existe no ramo. Não deve porém esquecer-se que um dos primeiros alvos selectivos a ser abatido foi Ahmed Jabari, chefe da ala militar do Hamas que, apresentado pelo governo de Netanyahu como um terrorista, desempenhava a importante tarefa de controlar os ímpetos dos grupos armados mais radicais e assim assegurar o respeito da trégua firmada com Israel (isto mesmo é afirmado pelo jornalista israelita Aluf Benn no seu artigo «Israel killed its subcontractor in Gaza», publicado no HAARETZ).

Não deixa de ser curioso que a mais antiga e bem estruturada democracia no Médio Oriente (assim o proclamam aos quatro ventos judeus e americanos) sinta regular necessidade de recorrer ao uso da força para se sustentar e, ironia das ironias, nem sequer a exerce sobre o seu povo, mas sobre os povos vizinhos, tudo isto enquanto mantém abertas todas as alternativas (e as acções militares, pois na última noite «Israel volta a bombardear uma centena de alvos em Gaza») mal se soube que o «Hamas anuncia acordo para o cessar-fogo mas Israel avisa que “ainda não chegámos lá”», embora um pouco mais tarde tenha sido anunciado que a mediação egípcio-americana terá alcançado um «Acordo para cessar-fogo em Gaza» de efeito e duração duvidosa uma vez que não contemplará os problemas resultante do bloqueio militar que Israel continua a impor àquele território.

Os próximos dias dirão da durabilidade de mais um acordo e dos reais efeitos, na região e no mundo, de mais este episódio.

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