quarta-feira, 26 de setembro de 2012

RESPOSTA ÀS IDEIAS FEITAS


Alguns dias depois das manifestações contestando as políticas de austeridade (incluindo a peregrina ideia de alteração na TSU, convertendo-a numa clara e directa transferência de rendimentos dos assalariados para as empresas) que trouxeram para as ruas do país (literalmente, pois estas decorreram um pouco por todo o território nacional) mais de meio milhão de pessoas e doutra importante manifestação enquanto decorria um improcedente Conselho de Estado, eis que surgiu o anúncio pelo governo de Passos Coelho de que um «Agravamento do IRS para todos substitui abandono da TSU».


A decisão, perfeitamente integrada na sua linha de pensamento neoliberal a que nos habituou, representa afinal mais do mesmo (contínua redução dos rendimentos de quem trabalha enquanto os rendimentos do capital continuam praticamente isentos ou sujeitos a muito reduzidos agravamentos fiscais), pelo que de modo algum se pode aceitar sem repúdio comentários como o do ex-líder do PSD e conselheiro de Estado, Luis Filipe Menezes, que afirmou que «Recuo na TSU é sinal de “humildade democrática”». Como habitual os “homens fortes da política nacional” escondem-se e protegem-se uns aos outros atrás de afirmações sonantes mas absolutamente falsas. Nem a solução alternativa constitui qualquer recuo na política de destruição social nem revela a menor humildade, porque não reconhece os erros cometidos nem sugere a menor alteração ao modelo gizado: o do saque dos rendimentos do trabalho (englobando aqui os trabalhadores por conta doutrem, os pensionistas e os pequenos empresários cuja actividade depende exclusivamente do mercado doméstico). Este facto foi aliás reconhecido pelo próprio Conselho de Económico e Social ao afirmar que a «Austeridade atingiu sobretudo trabalhadores e pensionistas em 2011».

O pretenso recuo de Passos Coelho constitui apenas o mais recente episódio no crescente divórcio entre governantes e cidadãos – nada de novo nem inédito no plano nacional e internacional (veja-se o que sucede na vizinha Espanha, onde ontem se reuniram «Milhares de pessoas junto ao Congresso de Deputados em Madrid», ou na Grécia onde o «Governo de coligação da Grécia enfrenta hoje primeira greve geral») para contestarem as sucessivas políticas de austeridade) – e além de demagógico e prejudicial ao País é ainda absolutamente antidemocrático, pelo que a única resposta que merece é novas e maiores manifestações populares.

O próximo Sábado, data para a qual a CGTP convocou uma acção de rua contra as medidas de austeridade, constituirá mais uma oportunidade para confirmar a mobilização e a resistência do que o diário espanhol El Pais designa como a «Rebelião portuguesa», podendo mesmo marcar mais um dia de clara oposição às políticas que estão a conduzir os países periféricos da Zona Euro e a UE a afundar-se numa crise de origens espúrias.

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