sexta-feira, 14 de setembro de 2012

E AGORA, COMO FAÇO?


Conhecidas as últimas medidas do governo de Passos Coelho e sabido que no Parlamento Vítor «Gaspar reconhece que défice real ultrapassa os 6%», de pronto o mesmo «Gaspar confirma mais medidas extra para cumprir o défice» que afinal não deverá ser de 4,5% como prometido aos credores (FMI, BCE e UE) nem de 5%, como estes benemeritamente “autorizaram”.

Passado o choque inicial instala-se a dúvida… e agora, o que se seguirá?


Deixando de lado as tradicionais hesitações de personagens como o que raramente tem dúvidas e nunca se engana[1], daqueles cuja única dúvida consiste na escolha da melhor via para fugir ao fisco, dos que se preocupam com pouco mais que a sua popularidade (e a natural reeleição) e daqueles cujo grande objectivo na vida terá sido a dum bem remunerado emprego como cobrador de dívidas, responderei aos que se interrogam sobre a forma como irão sobreviver depois de mais alguns considerandos sobre a dura realidade que vivemos.

Provado que ficou que a política de austeridade, receitada pelo FMI e demais representantes de credores, não consegue atingir o propalado objectivo da redução dos défices e quando o próprio «CES alerta para o efeito negativo da austeridade na economia e na dívida pública», não podem restar quaisquer dúvidas que existe uma inconfessável agenda político-económica que norteia as opções dos responsáveis políticos. A famigerada austeridade expansionista defendida por Passos Coelho não passa afinal de mais uma estratégia que visa a aterrorização da população com o objectivo de alcançar uma alteração profunda ao modelo de distribuição da riqueza em claro benefício do factor capital, tanto mais que feitas algumas contas sobre as estimativas do encaixe com as novas medidas de austeridade facilmente se conclui «Gaspar pediu seis vezes mais do que precisa cortar para a nova meta do défice» ou seja, porque é que o governo que prometeu falar verdade (e fez disso “leitmotiv” da última campanha eleitoral) mente com a mesma regularidade e a mesma gravidade que os anteriores.

Não bastando já as reduções salariais resultantes da estagnação dos salários, as pressões criadas pela redução salarial imposta aos trabalhadores da função pública e do sector empresarial do estado, o agravamento superior a 60% dos descontos para a Segurança Social em benefício da redução da componente que era suportada pelas empresas (Taxa Social Única) só pode cumprir o mero objectivo de aumentar os resultados das empresas, com a agravante dos maiores beneficiados serem as grandes empresas e não as famosas PME que pomposamente figuram nos discursos de todo o político que se preze.

Se algum mérito se pode reconhecer nestas políticas é o de aproximar cada vez mais os interesses de camadas da população cujas aparentes divergências têm até agora sido exploradas até à exaustão pelos tradicionais candidatos a governantes. Perante um cenário de ainda maior retracção na economia interna, que há dias levou analistas do BNP Paribas a antever que o «Défice deste ano ficará nos 6% e recessão em 2013 será ainda mas severa», até os pequenos empresários começam a fazer coro com os assalariados e os pensionistas e assim sindicatos e confederações patronais já se pronunciaram em desacordo com esta nova vaga de medidas de austeridade.

O coro de contestação, que une assalariados, pensionistas e pequenos empresários, extravasou já para a própria área dos partidos da coligação PSD/CDS, a ponto de já ter sido noticiado que durante uma reunião dos deputados da maioria com o ministro das finanças, o «Porta-voz do CDS ataca Gaspar»; até notáveis do PSD e do CDS, como o moderado Marcelo Rebelo de Sousa que classificou o primeiro-ministro de “impreparado” (e terá até estado à beira de lhe chamar incompetente), Manuela Ferreira Leite (porta-voz ressabiado da facção cavaquista) que afirmou que «“Ninguém consegue engolir a segunda dose de xarope”» ou o ex-líder do CDS, Ribeiro e Castro, que numa entrevista à RDP afirmou que ““É preciso saltar a pés juntos” sobre as rendas excessivas e sobre os “interesses instalados””, já expressaram o seu desacordo às propostas, deixando pairar a dúvida sobre futuros desenvolvimentos e explicando porque é que na sua mais recente reunião «Vítor Gaspar disse ao Eurogrupo que novas medidas intensificaram debate político».

Reduzidas as reacções dos “notáveis” à sua justa dimensão (um Marcelo Rebelo de Sousa que visa manter a sua aura de “fazedor de reis”, uma Manuela Ferreira Leite que terá aceite o papel de porta-voz agitador da facção cavaquista e um Ribeiro e Castro que lá pôs o dedo na ferida) e mantendo vivo o princípio que o verdadeiro poder apenas pode advir do povo, respondo de forma simples e directa aos que se interrogam sobre a forma como irão sobreviver às medidas anunciadas: convertam a vossa agonia num claro e audível grito de revolta e deixem bem claro que ao contrário do que afirmam a maioria dos partidos políticos existem alternativas às políticas do FMI.



[1] Mas que, pelo sim pelo não, na qualidade de «Presidente da República convoca o Conselho de Estado e Vítor Gaspar».

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