Mais do que avaliar a dimensão e os efeitos da Greve Geral que teve lugar no passado dia 24 importa pensar para lá dela.
A Greve fez-se, o país parou, em boa medida, e agora... que lições tirar disso?
Que é indispensável reabrir o diálogo entre Governo e Sindicatos, como pretende esta notícia do DN, ou afinal a greve não terá tido grande significado como pretende estoutra do JORNAL DE NOTÍCIAS?
Independentemente do ponto de vista sobre a dimensão, a importância da greve em Portugal foi reconhecida na imprensa europeia (de que é exemplo esta notícia do LE MONDE) facto que aumenta a responsabilidade das direcções indicais num correcto aprofundamento do movimento de oposição às políticas preconizadas pelo Governo a pretexto do combate ao défice público, as quais seguem de perto as que têm sido concertadas em Bruxelas que afirmando querer evitar o efeito de contágio entre as economias comunitárias, propõe tratar isoladamente cada uma delas em vez de alterar radicalmente o modelo orçamental da comunidade (criando um único orçamento comunitário) e o modelo de financiamento (com o BCE a financiar directamente aquele orçamento em vez de financiar os bancos que em seguida financiarão cada um dos estados-membros com os inevitáveis ganhos resultantes entre a taxa cobrada pelo BCE e as taxas exigidas a cada um dos estados), opção que se tem revelando um completo fracasso.
Mesmo considerando as especificidades do caso português, que já antes do eclodir da crise apresentava evidentes sinais de debilidades estruturais, situação que em nada será contrariada com medidas como o aumento de impostos directos sobre o trabalho ou de impostos indirectos (IVA), e a existência de uma evidente estratégia de desacreditação do euro (em benefício do dólar e da libra), nada impede que as populações se oponham de forma consciente àquela que tem sido a estratégia privilegiada pelos poderes estabelecidos, a saber: a defesa dos interesses das grandes empresas em prejuízo da vasta maioria da população dos estados que têm vindo, um após outro, a constituir o alvo preferencial do “interesse” dos “mercados”.
Esta estratégia tem sido particularmente clara no caso da Alemanha, cujo governo nunca revelou a menor preocupação pela situação global da EU e para o qual a questão central tem sido a defesa dos interesses (leia-se dos investimentos) dos bancos alemães em cada uma das economias “atacadas” e o seu próprio interesse no crescimento das exportações impulsionadas por um euro menos forte; este raciocínio não é exclusivo dos alemães, antes extensível a outros estados-membros que ostensivamente têm sobreposto os seus interesses nacionais aos interesses do conjunto da UE, como é o caso dos ingleses (cujos bancos se encontram grandemente expostos à divida irlandesa) que se apressaram a integrar agora o grupo de apoio à Irlanda quando, a pretexto de não integrarem a Zona Euro, se recusaram a fazer o mesmo em benefício da Grécia.
Para se ter uma ideia mais clara deste fenómeno, veja-se a imagem seguinte
que sintetiza a exposição dos países europeus periféricos (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália) entre si e dos três grandes (Alemanha, França e Reino Unido).
As fragilidades e as contradições que alemães, franceses e ingleses não param de revelar – e que segundo alguns comentadores estarão também a alimentar o movimento especulativo – podem (e devem) ser igualmente exploradas por quem queira liderar a luta por outras políticas de combate à crise, para cujo sucesso muito dependerão factores como a capacidade de fundamentação clara das alternativas, nomeadamente a já referida necessidade de um orçamento comum, a da colocação do crédito ao serviço dos povos e não do sector financeiro, e a capacidade de mobilização das vontades.
É que a atestar por esta notícia do DN que assegura que os «Portugueses trabalham mais horas pelo mesmo dinheiro», não deverão faltar boas vontades que, se para já têm contribuído para aumentar a produtividade nacional, algo que alguma imprensa e alguns comentadores insistem em negar, e os lucros das empresas, poderão no futuro levar avante uma verdadeira e eficaz política de combate à crise baseada não nas necessidades de quem tudo pode mas nos anseios de quem algo deseja.
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