A actual conjuntura recessiva (habitual bode expiatório de todos os males) não pode servir para explicar a dimensão de um problema que sendo de origem económica (as enormes dificuldades de integração dos jovens no mercado de trabalho) não se pode reduzir às meras dificuldades de encontrar emprego.
As elevadas taxas de desemprego entre os jovens que se contabilizam por essa Europa fora, não resultam apenas do número de empresas que têm cessado actividade ou daquelas que têm reduzido os seus quadros de pessoal na tentativa de responderem à actual crise económica, mas também da manifesta incapacidade das sociedades responderem aos anseios dos seus membros mais jovens.
Até o habitual argumento da falta de qualificação da mão-de-obra parece cair pela base quando se verifica uma tendência generalizada para o aumento do desemprego até entre os que apresentam melhores níveis de escolaridade.
Abdicando da tentação por uma explicação simplista – os jovens não encontram emprego por não disporem das competências que as empresas procuram – e que podendo ser parcialmente verdadeira não pode ser aceite como justificação geral, haverá que procurar outras razões para o fenómeno e que além da justificação contribuam para uma solução, sob pena de os deixarmos caminhar em direcção ao abismo.
Se no caso português é evidente a melhoria nos níveis de formação, não é menos verdade que muitos deles poderão ser (e são-no geralmente) de duvidosa eficácia prática e ainda menor aceitação no mercado de trabalho. É verdade que se os empregadores não devem de abdicar de escolher os trabalhadores mais adequados às necessidades das suas empresas, também não é menos verdade que o que os mesmos empregadores procuram é essencialmente mão-de-obra barata.
Isso mesmo é particularmente claro quando se verifica que a maioria dos jovens que tem encontrado trabalho tem sido em situações de manifesta precariedade (contratos a prazo ou à tarefa) e auferindo salários manifestamente reduzidos para o nível de formação que apresentam. Lamentavelmente o quadro que o país oferece é o dos caixas de supermercado ou o dos atendedores dos “call-center” licenciados e remunerados pelo salário mínimo nacional.
Já não é apenas uma questão da mais elementar justiça, é também um importante sinal para a geração que ainda se encontra nos bancos das escolas e que inevitavelmente se questiona da utilidade (vantagens) do seu percurso académico. Além da questão da motivação dos estudantes também deve ser equacionada a da motivação dos professores e, no limite, a dos próprios progenitores.
Quando tanto se fala (mas tão pouco se vê fazer) na questão da desmotivação nacional, quem é que honestamente pode esperar ver quebrado o ciclo quando a perspectiva que se oferece aos jovens é a do desemprego, ou na melhor das hipóteses, um emprego temporário e mal remunerado.
Até quando iremos esperar para ver melhorar a situação das gerações que a nossa inépcia condenou (e continua a condenar) a vegetarem numa sociedade cada vez mais egoísta, onde os objectivos individuais continuam a sobrepor-se aos colectivos e onde os que não alcançarem o sucesso (que pode até ser apenas um trabalho digno e adequadamente remunerado) continuam a ser vistos como marginais.
Quanto tempo sobreviverá uma sociedade onde as gerações futuras continuam a ser encaradas apenas como uma submissa reserva de mão-de-obra barata?
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[1] Nome de um jogo de computador muito popular nos anos 90 do século passado que era suposto reproduzir o comportamento em bando dos pequenos mamíferos do mesmo nome, levando a que as opções erradas do líder conduzissem à aniquilação do grupo.
[2] É de elementar justiça que a par com esta referência à notícia do PUBLICO se refira também o trabalho que, salvo erro, desde meados de 2009 a VISÃO vem apresentando sob o título genérico de «DIÁRIOS DE DESEMPREGADOS».
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