Contrariando os dados estatísticos (ou talvez não, pois são bem conhecidos os desvios entre os dados estatísticos e econométricos em períodos de maior instabilidade das economias e dos mercados) que continuam a ser anunciados pelos políticos por esse mundo fora de que as economias começaram já a recuperar, este “convite” do BIS deve ser acompanhado com a atenção que merece, principalmente se quisermos manter uma perspectiva informada sobre o desenrolar da crise.
Igualmente interessante é a informação veiculada pelo mesmo FINANTIAL TIMES de que aquela iniciativa aparece num «...momento de grande incerteza em que a tentativa de recuperação económica surge toldada pelo excessivo endividamento privado, pelo rápido crescimento do endividamento público e pelo elevado desemprego». Ora esta apreciação é, nem mais nem menos que um claro sinal da fragilidade daquilo que muitos persistem em classificar como os “claros sinais da retoma”.
Mesmo compreendendo a necessidade dos governantes difundirem algumas mensagens de esperança e até de incentivo para os agentes económicos, a opção escolhida pela generalidade dos líderes políticos está longe de contribuir para uma efectiva consciencialização dos cidadãos para a dimensão real da situação económica mundial e, pior, pode muitas vezes sem considerada como mais uma cortina de fumo destinada a desviar as atenções.
O sinal de preocupação transmitido pelo BIS, nomeadamente no que respeita ao crescimento do endividamento, é apenas mais um entre os muitos que vão surgindo com alguma regularidade, mas assume particular relevância por ser emitido pelo sector de actividade que mais contribuiu (e contribui) para o actual estado da economia global. É que se existiram óbvios erros de gestão que conduziram outros sectores de actividade, como a indústria automóvel ou a dos transportes, à situação de crise que atravessam, no caso do sector financeiro mais do que erros de gestão pode-se dizer que é a essência da própria actividade – o tratamento da moeda e do crédito como mercadoria meramente sujeita às leis da oferta e da procura – que “arrastou” toda a gente para a situação que vivemos.
De acordo com a informação veiculada pelo FINANTIAL TIMES, a própria nota convocatória da reunião refere a «...preocupação de que a prolongada garantia de financiamento fácil e barato possa encorajar a excessiva tomada de risco...», o que no dialecto financeiro significa a forte probabilidade de formação de uma nova bolha especulativa, preocupação que nem sequer é nova (já em meados de Novembro do ano passado o PUBLICO publicou uma entrevista com o presidente do The Boston Consulting Group[2], na qual este referia a inevitabilidade da ocorrência de novas bolhas especulativas), havendo mesmo quem defenda que essa é a via normal de funcionamento do sector financeiro.
Mais importante que as conclusões da reunião (no essencial é até bem possível que esta acabe apenas para servir como novo meio de pressão sobre os governos que pretendem introduzir novas limitações à actividade financeira mundial), acaba por ser a notícia da sua realização enquanto confirmação da incapacidade dos poderes políticos introduzirem reais e eficazes limitações ao capitalismo especulativo.
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[1] Bank for International Settlements ou Banco de Compensações Internacionais é uma organização internacional, reúne 55 bancos centrais e tem sede em Basileia (Suíça), responsável pela supervisão bancária (espécie de banco central dos bancos centrais), tem como finalidade a promoção da cooperação entre os bancos na tentativa de estabilidade monetária e financeira.
[2] A Boston Consulting Group (BCG) é uma empresa de consultadoria de gestão fundada em 1963, dirigida por Hans-Paul Bürkner e considerada actualmente como uma das mais prestigiadas no ramo.
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