domingo, 31 de janeiro de 2010

O PREÇO CERTO

Para quem tenha acompanhado, ou não, o desenrolar da mais recente saga afegã, iniciada com a invasão de tropas ocidentais após os acontecimentos do 11 de Setembro e com o objectivo fixado na captura de Osama Bin Laden, recomendo a leitura da crónica do embaixador britânico, Alexander Ellis, no último número do EXPRESSO, que faz uma interessante descrição da recente cimeira de interessados que reuniu em Londres, apresentando-a como «…um Programa de Paz e de Reintegração, que oferece alternativas económicas para aqueles que queiram renunciar à violência, cortar laços com o terrorismo, e prefiram abraçar o processo democrático».

Esta simples transcrição (típica de um diplomata de carreira) significa, nem mais nem menos, que os países ocidentais alinharam em assinar mais um cheque a Hamid Karzai, o presidente afegão que desde o desembarque das tropas da NATO se tem visto regularmente envolvido em fortes suspeitas de corrupção e cujo processo de reeleição é apenas mais um.

Esta realidade fica bem mais clara lendo-se a notícia do PUBLICO – «Plano afegão de negociar a paz com os taliban apoiado com condições» – que assegura que «…a conferência comprometeu-se com um fundo de 140 milhões de dólares (que pode chegar aos 500 milhões) para apoio à integração na sociedade dos que queiram abandonar a insurreição» e a dúvida (que a notícia também refere) relativa à fragilidade política de Karzai é o mínimo que se pode colocar.

Quando é conhecido o facto do mais recente relatório sobre o fenómeno da corrupção no Afeganistão, da autoria da USAID (United States Agency for International Development) mencionar que 2/3 das famílias afegãs pagaram subornos nos últimos 6 meses e de se estimar que os montantes envolvidos deverão rondar 25% do PIB afegão (cerca de 10 mil milhões de dólares), a dimensão do “investimento” agora decidido e a atracção que ele seguramente vai exercer sobre o que de pior existe na sociedade afegã é uma boa garantia para o prosseguimento da instabilidade naquele país.

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