Enquanto os políticos persistem em tratar os seus eleitores como mentecaptos incapazes de compreender os grandes problemas da Europa e do Mundo ou como crianças que apenas podem ser deixadas na ilusão que determinam a sua própria actividade, os problemas de organização e de condução dos destinos de cerca de 500 milhões de cidadãos continuam entregues aos mesmos que já mostraram à saciedade sua incapacidade para a tarefa.
Ao que me tem sido dado apreciar o problema da ausência de efectivos debates sobre a Europa e o seu futuro não constitui exclusivo dos portugueses, facto que de modo algum justifica semelhante atitude. Mesmo que os políticos continuem a apostar em organizar campanhas orientadas segundo os mesmos princípios que regem a publicidade empresarial, é obrigação dos cidadãos recusarem-se a definir a sua opção de voto do mesmo modo que escolhem um detergente ou um dentífrico nas prateleiras de um supermercado.
Nem mesmo qualquer reminiscência entre a designação do continente que habitamos (ou da região económica) e a antiga mitologia helénica[1] justifica que os cidadãos aceitem de forma pacífica o total absurdo em que se têm transformado os processos eleitorais europeus.
Na actual conjuntura e quando os desafios e as dificuldades que se avizinham serão maiores que nunca não podemos permitir-nos a continuar cativos de uma plêiade de políticos demagogos e que já deram mais que suficientes provas das suas limitações e incapacidades. Mais que nunca a presença no acto eleitoral é indispensável, pois a opção de quem pretenda ver modificado a actual estado das coisas na União Europeia não poderá ser a abstenção.
Propagandeada de forma mais ou menos aberta por alguns sectores da opinião ou defendida na prática pelos partidos que se apresentam a sufrágio discutindo apenas os problemas de âmbito nacional, a abstenção no actual modelo eleitoral é de todo em todo ineficaz para contribuir de forma efectiva para representar a opinião dos que não se revejam nos partidos em liça. Infelizmente, na ausência de melhor solução[2], continuamos condenados a escolher o “mal menor” e a esperar que estes se revelem efectivos factores de mudança.
Há pois que votar! Votar nos candidatos que, normalmente afastados dos processos de decisão, se possam vir a revelar capazes de lançar as bases de construção de um novo paradigma organizacional para uma Europa que se quer orientada para a defesa dos seus cidadãos e para a construção de um espaço de convivência para a multiplicidade de povos, línguas e culturas que representam o melhor de cada um de nós.
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[1] Segundo a mitologia grega, a belíssima Europa, filha do rei da Fenícia, foi raptada pelo deus Zeus disfarçado sob a forma de um touro branco.
[2] De acordo com o modelo de contagem dos votos em vigor, quer a abstenção quer o voto nulo ou em branco não representam alternativa válida, pois tudo o que fazem é reduzir o número de votos necessário à eleição para cada um dos lugares em disputa. Apenas a existência de um forte código de honra por parte dos candidatos (algo totalmente impensável no actual quadro referencial) asseguraria que estes perante uma abstenção esmagadora ou uma enorme votação em branco se abstivessem de tomar posse do lugar para que tivessem sido “eleitos” pela minoria de votante efectivos.
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