sábado, 18 de abril de 2009

TENTANDO VER ALÉM DA PIRATARIA

Em Abril de 2008, já a propósito do recrudescimento do fenómeno da pirataria nas costas somalis, escrevi[1], citando Jacques Attali, sobre o fenómeno colocando-o num plano muito superior ao do mero banditismo. Um ano volvido e sem aparente melhoria da situação, proponho-me agora abordar a forma como a comunidade internacional pretende lidar com o problema.

Talvez consequência do constante assalto às rotas comerciais que frequentam aquelas águas costeiras, o ocidente decidiu enviar alguns vasos de guerra para a região com o objectivo de proteger o comércio mundial.

Porém, a questão é muito mais vasta que a aparentada pelos simples actos de pirataria e deve ser analisada numa dupla perspectiva: a da instabilidade e insegurança que se vive na Somália (e um pouco por todo o Corno de África) e a da extrema pobreza que grassa na região (seja ela, ou não, consequência do clima de guerra civil que se arrasta), para a qual os habitantes não vislumbram a mínima alternativa.

A Somália (e o conjunto do Corno de África) é apenas mais um exemplo do que pode resultar quando as populações são reduzidas a situações extremas de falta de recursos e de ausência de perspectivas de futuro.

Isso mesmo foi deixado bem claro por Roger Middleton[2], um membro “think-tank” Chatham House, que recentemente publicou o artigo «PIRACY SYMPTOM OF BIGGER PROBLEM» na BBC NEWS, quando diz que a «...crónica instabilidade da maior parte dos países (do Corno de África) e as ameaças diárias à vida humana levam a que os riscos associados à pirataria sejam avaliados como inferiores aos diariamente incorridos».

Bem podem as potências ocidentais alardear o seu vasto poderio naval e recorrer mesmo ao uso dessa força desproporcionada, que dificilmente resolverão o problema da segurança.

O uso da força poderá até originar a reacção inversa à desejada – a redução da disponibilidade para a prática dos assaltos – e, em caso algum contribuirá para a melhoria das condições de vida das populações, único factor que poderá com sucesso reduzir o número de disponíveis para os actos de pirataria.
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[1] Refiro-me em concreto ao “post” ” «PIRATAS A BORDO», texto no qual procurei abordar a questão numa perspectiva mais vasta que a da mera “pirataria”. Do mesmo modo, voltei alguns meses depois ao tema, no “post” «PIRATAS SOMALIS E NÃO SÓ...», abordando-o na perspectiva das relações norte-sul e na exploração que as nações mais desenvolvidas têm feito ao continente africano, nomeadamente através da prática da exportação das actividades mais poluentes para aquele continente.
[2] Roger Middleton além professor de História de Economia Política, na Universidade de Bristol, é especialista em questões políticas do Corno de África, nas relações África-UEE e em questões de paz e segurança e um dos consultores e investigadores que colaboram no Africa Programme do Chatham House.

1 comentário:

Sérgio disse...

Essa é velha e ... estúpida. Igualzinho a aqueles que vêem a fome e a pobreza atrás dos carjakings e assaltos a ourivesarias... Completamente estúpido mas tão sempre na moda recente de transformar criminosos em vítimas. Aliás, os piratas são combatidos por outros somalianos que os não aceitam. Mas nós temos sempre quem tenha um "olhar para além de..." tsss