quinta-feira, 23 de abril de 2009

AS ÚTEIS PROJECÇÕES DO FMI

Nas últimas semanas têm abundado as notícias sobre as previsões económicas (sejam elas oriundas de organismos mais ou menos oficiais, nacionais ou estrangeiros) e esta também não vai falhar a regra, tanto mais que assistimos à publicação pelo FMI do WORLD ECONOMIC OUTLOOK e que como seria de esperar apresenta o ponto de vista de um organismo que há décadas prima pelo “rigor” do seu trabalho.

Uma rápida visita à sua página na Internet oferece-nos esta súmula do seu trabalho e das suas previsões:

as quais deverão ter sido recebidas com enorme alegria lá pelas terras do Tio Sam, ou não se desse o caso de os EUA (e o vizinho Canadá) apresentarem melhores perspectivas que as dos restantes países ocidentais, mesmo quando todas as previsões foram revistas em baixa relativamente a Janeiro deste ano.

Aqueles números até poderão vir a revelar-se acertados, mas olhando para o historial e para o papel que o FMI tem desempenhado na disseminação da globalização e na fragilização de muitas das economias que aceitaram a aplicação (ou a isso forçadas) do Consenso de Washington, dificilmente se poderão aceitar estas previsões sem fundadas dúvidas, tanto mais que uma observação um pouco mais atenta dos mesmos revela o seguinte padrão:

  1. em 2009, excepção feita às economias emergentes dos continentes africano e asiático, todas as restantes registam crescimentos negativos nas respectivas economias;
  2. os EUA e o conjunto das economias avançadas terão, em 2010, um crescimento zero;
  3. para 2010 a perspectiva é de que apenas as economias europeias, com a excepção da França (será reflexo do facto do presidente do FMI ser o francês Dominique Strauss-Khan e aquele ser um dos territórios da UEE onde a contestação popular aos reflexos da crise económica e à inépcia dos governantes é das mais activas?) continuarão a ter crescimentos negativos, quando tudo o resto revela já sinais de retoma;

que parece demasiado favorável aos interesses norte-americanos.

Concretamente para o caso português e para a UE (tal como as apresentou o
JORNAL DE NEGÓCIOS), são as seguintes as previsões:

que confirmam que o início da retoma não deverá ocorrer antes de 2011 e que já começaram a ser usadas pela oposição e pelo Governo para trocarem críticas e outros jogos florais, pois quanto a propostas bem fundamentadas e orientadas para o cerne da questão, continuamos a esperar…

E se Portugal até nem aparece muito afastado dos valores médios previstos para a Zona Euro, importa não esquecer que a posição da economia portuguesa se situa na cauda daquele grupo, pelo que o aparente bom desempenho não significa qualquer convergência com os padrões médios do grupo e que tão alardeada vantagem do equilíbrio orçamental – argumento de que o governo de José Sócrates usa e abusa para contradizer as críticas – apenas serve para esconder o facto das dificuldades da economia nacional ultrapassarem a mera conjuntura recessiva mundial, pois remontam a questões de natureza estrutural, como sejam o atraso na modernização do tecido produtivo nacional e a ausência de um modelo coerente de desenvolvimento nacional.

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