Para os que ontem mesmo leram o texto e pensaram que o aviso pode apresentar algum exagero, recomendo a leitura do último relatório do Laboratoire Européen d’Antecipation Politique (LEAP/E2020), cujo resumo é mais que suficiente para fundamentar aquele alerta.
Em poucas palavras os investigadores do “think tank” europeu apresentam com elevada probabilidade a hipótese de no segundo semestre deste ano se registar um agravamento das condições nas principais economias mundiais; depois de confirmado:
- o contágio por via do elevado endividamento americano;
- a queda generalizada nas principais bolsas mundiais (com especial destaque para a norte-americana e as asiáticas);
- o rebentamento das bolhas imobiliárias (principalmente nos EUA, no Reino Unido e em Espanha);
- a forte volatilidade monetária, com o dólar americano em queda acentuada contra as principais divisas;
- os sinais de estagflação das principais economias, com a agravante da economia americana apresentar evidentes sinais de recessão;
- as alterações geo-estratégicas, com especial relevo na instável região do médio-oriente e/ou originadas pela crise energética mundial;
o LEAP/E2020 avisa agora para a forte probabilidade de:
- agravamento da tendência de desvalorização do dólar e para os efeitos negativos que isso terá sobre a respectiva economia;
- falência do sistema financeiro mundial;
- confirmação do esboroar da economia norte-americana (não apenas a vertente financeira mas também o que resta da produtiva);
- entrada em recessão das economias europeias periféricas, com as do centro a abrandarem o crescimento;
- abrandamento das exportações e crescimento da inflação nas economias asiáticas;
- crescimento das dificuldades na América Latina, com a Argentina e o México a entrarem também em crise;
- aumento da instabilidade nos países árabes com uma forte possibilidade de convulsões em todo o Magreb, na Líbia e no Egipto;
- aumento da probabilidade de ocorrência de um ataque ao Irão;
- rebentamento das bolhas especulativas.
Mesmo que nem todas estas previsões se venham a concretizar, as mais gravosas delas estão, infelizmente, perfeitamente dentro de um horizonte de probabilidade aceitável, tanto mais que a maior parte apresenta um fortíssima correlação com o valor do dólar norte-americano e com a cada vez mais evidente debilidade daquela economia.
Se a par com esta realidade surge a natural tendência para a perca da hegemonia das teses económicas monetaristas e neo-liberais, não é menos verdade que parece ainda prematuro apontar qual a solução que virá a ser adoptada como via para a minimização dos prejuízos e se alguns veteranos mais avisados vão relembrando, como o fez Mário Soares, a necessidade de recuperar as preocupações sociais, outros vão procurando a nova forma capitalista que substitua com vantagens a que agora conhecemos enquanto tudo isto decorre os políticos que nos governam, perdidos nos cenários idealistas e desabituados ou formalmente incapazes de pensarem vão queimando tempo com os seus discursos de modernidades e sobre um ou outro “fait divers” que escondam a sua total inépcia para enfrentar a actual conjuntura.
Totalmente desprovidos de ideias próprias e quiçá incapazes de entenderem a verdadeira dimensão e a multiplicidade de opções disponíveis, governo e oposição, enleados nas suas próprias contradições internas (um governo que aplica as políticas da oposição e encontra no seu próprio seio a maior oposição) assistem ao dealbar da crise como se simples autistas se tratassem.
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