quarta-feira, 4 de junho de 2008

TEMOS NAS NOSSAS MÃOS O TERRÍVEL PODER DE RECUSAR

Será que no meio do negrume originado pelo clima geral de incerteza em que a crise da economia norte-americana mergulhou o resto do mundo, assistimos ontem ao rasgar de algum véu?

A avaliar por alguns órgãos de comunicação o gesto personificado por Manuel Alegre parece que constituirá mesmo algum marco significativo; desde o arrebatado título da edição do EXPRESSO on line – Alegre surpreende a esquerda – até ao mais contido do PUBLICO – Manuel Alegre declara lealdade “aos que votaram PS e estão na pobreza” – e terminando no pragmático – Manuel Alegre defende diálogo à esquerda para “alternativas” – usado pelo DIÁRIO DIGITAL, todos parecem anunciar novas e promissoras alvoradas…

Mas, será mesmo essa a leitura que se deve fazer da simples presença de um político da velha guarda do PS num comício do Bloco de Esquerda?

Talvez aqueles que não viveram nenhum período de real agitação política, achem tudo isto particularmente importante e decisivo, mas a realidade que a experiência aconselha a reter é que em política poucas vezes os grandes discursos revelam efectiva correspondência com a resolução dos grandes problemas das populações.

A avaliar pelas actuações dos governos do PS, pelo manifesto fracasso da prometida convergência económica e social com os restantes países membros da UE, pela escandalosa cedência à atracção pelo poder em detrimento dos princípios e valores, fases que Manuel Alegre acompanhou no interior do PS, quase sou tentado a dizer, como há dias o fez Miguel Sousa Tavares: “Por favor, não governem mais!”, ou como Baptista-Bastos, em “A crise da esquerda”: «O "realismo" político da esquerda tem sido o do cumprimento das regras, sem contrariar o domínio do capitalismo global, cada vez mais selvático. A esquerda tem, somente, tentado salvar a mobília com que ataviou a sua história, aceitando, como mal menor, as imposições do "mercado"

De forma mais simples e directa (sempre a melhor forma de abordar problemas), mais que o teor dos discursos que ontem encheram a sala do Teatro da Trindade é no texto do manifesto que originou o comício que deve ser encontrado o rumo a seguir: «Não nos resignamos perante as dificuldades. Como escreveu Miguel Torga – “Temos nas nossas mãos / o terrível poder de recusar”. Mas também o poder de afirmar e de dar vida à democracia

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