quarta-feira, 25 de julho de 2007

PREDADORES E PRESAS

Na sequência do seu artigo de opinião da passada semana, no qual reflectia sobre a responsabilidade dos políticos nos fenómenos de migração laboral, volta hoje Baptista-Bastos a abordar o “mundo do trabalho”. Não aquele mundo distante e asséptico tão do agrado dos teóricos, mas o que é sentido um pouco no dia-a-dia de cada um de nós.

Após ter traçado um retrato amargamente real dos nossos políticos que «não possuem talento nem grandeza para criar condições de vida aceitáveis», revelam uma «mediocridade exultante (...) típica do populismo autoritário, que deixa de lado as mais vivas expressões da realidade social», no artigo intitulado «OS NOVOS GAIBÉUS», vem agora em «AÍ ESTÃO OS PREDADORES» denunciar o lado mais negro e reaccionário dos subscritores da POSIÇÃO COMUM DAS CONFEDERAÇÕES PATRONAIS, quando estas surgem a defender o fim da proibição dos despedimentos sem justa causa, ou por motivos políticos ou ideológicos.


Sem eufemismos nem falsos argumentos, a única coisa que se pode pretender com o fim daquela limitação legal é a restauração de um tipo de despotismo, que para quem conheça as características dos “capitães da indústria” nacional, nem sequer se pode apresentar como esclarecido ou iluminado.

Quem leia a fundamentação da proposta não encontra nela uma única referência desabonatória nem de carácter autoritário; como dizem os subscritores «nenhuma entidade empregadora pretenderá fazer cessar a sua relação laboral com trabalhadores competentes e capazes mas tão só com aqueles que não demonstram aptidões ou vontade para o respectivo desempenho profissional», até porque estes prejudicam «a performance da empresa como um todo e (...) a posição dos demais trabalhadores». Tudo é proposto na defesa dos interesses da maioria contra «os menos diligentes, mais absentistas e menos competentes».

A leitura desta proposta das confederações patronais não pode ser desligada doutra já apresentada pelo actual governo e que consiste na hipótese de processo disciplinar aos funcionários públicos que mereçam duas classificações de desempenho negativas, nem dos casos de “afastamento” de funcionários dos Ministérios da Educação e da Saúde aparentemente pouco colaborantes.

Muitas mais questões poderiam ser levantadas a todos este processos de avaliação – os pretendidos pelas confederações patronais, os que o Estado irá aplicar aos seus funcionários e aos que já hoje são aplicados em muitas empresas no nosso país – mas esta é principal: quem assegura a qualidade e a isenção dos avaliadores?

No Estado ou no sector privado, com a actual legislação ou com outra mais liberal, ninguém pode assegurar a equidade do sistema que rotula (e continuará a rotular) os trabalhadores, quando este apenas prevê avaliações baseadas em sistemas hierárquicos sustentados no poder.

Baptista-Bastos tem amplas razões, e profundo conhecimento causa, para pretender travar o regresso dos “predadores”, mas a realidade mostra que eles há muito estão infiltrados entre nós e os estragos são cada vez mais visíveis, com a agravante de que talvez possamos impedir o regresso dos “leões”, mas as “hienas” nunca as exterminámos!

2 comentários:

Menina Marota disse...

"...com a agravante de que talvez possamos impedir o regresso dos “leões”, mas as “hienas” nunca as exterminámos!"

Faz-me lembra a estória que o meu Avô contava...podemos mudar de farinha, mas senão mudarmos de moleiro...

:))

A Xarim disse...

Nem mais!