domingo, 15 de julho de 2007

ELEIÇÕES EM LISBOA

No final do dia de hoje conhecer-se-á qual dos doze candidatos será eleito como futuro presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

O curioso (e anormalmente elevado) número de candidatos pode prestar-se a todo o tipo de análises e considerações, desde as de natureza político-partidária até às de consonância bíblica (alguém reparou que o número de concorrentes iguala o dos apóstolos?), sem esquecer as que mais prosaicamente recordam o elevado interesse (político e financeiro) em presidir aos destinos do caos em que foi transformado o município e que o caricaturista João Fazenda tão bem retratou no último número da VISÃO.

Dilacerado pelo peso excessivo dos encargos, fragilizado por quem não hesitou em sacrificá-lo aos seus interesses pessoais (caso da ruptura da plataforma eleitoral PS/PCP que através de Jorge Sampaio e de João Soares governou a cidade durante vários anos e do abandono de Santana Lopes para substituir na chefia do governo Durão Barroso, também ele “fugitivo” para Bruxelas), exaurido por uma máquina administrativa demasiado pesada e totalmente enfeudada às estruturas partidárias dos principais partidos políticos, eis que as sucessivas crises originadas pelas constantes suspeições e investigações quanto à credibilidade da equipa de gestão acabaram por conduzir à queda do executivo camarário e à subsequente convocação de eleições.

Da campanha eleitoral resultaram os habituais discursos de promessas e mais promessas; em termos práticos, fracassada a hipótese de renovação da plataforma PS/PCP (que mal ou bem teve pelo menos a virtualidade de ter oferecido um período de estabilidade à autarquia) surgiram candidatos de todas as áreas políticas (incluindo monárquicos e nacionalistas) e até duas candidaturas independentes, sendo uma delas a do anterior presidente Carmona Rodrigues (eleito com o apoio do PSD), os candidatos apoiados pelos partidos que nunca exerceram a condução dos destinos da autarquia desdobraram-se em críticas aos que já o fizeram e todos se desfizeram em promessas e mais promessas…

Na prática todos, ou quase todos, parecem ter-se esquecido que a finalidade da sua eleição será a de conduzirem a capital do país no sentido da melhoria das condições de vida (habitação, tráfego, segurança e espaços verdes) daqueles que por teimosia ou total ausência de alternativas, ainda habitam a cidade.

Mesmo entendendo que a dimensão e a importância de ser a capital transformem Lisboa num caso especial, ninguém, verdadeiramente digno de desempenhar o cargo a que se candidata, podia ter esquecido aquela realidade e agora resta esperar que os eleitores de Lisboa revelem o discernimento que faltou àqueles políticos.

A acreditar no resultado das sondagens conhecidas, não restarão grandes dúvidas de que o próximo presidente da autarquia será o socialista António Costa (ex-número dois do governo de José Sócrates) ficando apenas a dúvida quanto à composição do elenco executivo.

No meio de tanta dúvida e incerteza é de assinalar (pela negativa) que em concreto nenhum dos principais candidatos apresentou um plano de acção suficientemente credível para resolver o problema do passivo financeiro da autarquia, situação que dificilmente será resolvida com a eleição de uma nova equipa de origem política diferente (PS) da que lidera a Assembleia Municipal (PSD).

A avaliar pelo longo historial de quezílias entre PS e PSD e pela natural sobreposição dos interesses pessoais e partidários sobre os interesses comuns (os dos munícipes), é bem natural que Lisboa continue a ser uma cidade adiada por mais dois anos…

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