quarta-feira, 16 de maio de 2007

A IMPORTÂNCIA DE SABER ESCREVER

Foi hoje apresentado o mais recente livro de Baptista-Bastos - «AS BICICLETAS EM SETEMBRO».

Este facto, por si só, mereceria a referência a um autor que apresenta uma invejável carreira no campo das letras; iniciado no jornalismo aos 19 anos de idade, conta-se, com os seus 72 anos, entre os mais lúcidos observadores da realidade portuguesa.

A prova?

Leiam este maravilhoso texto hoje publicado no DN:

«PORTUGAL PASSA AO LADO

Espavorido, Marques Mendes fez, há dias, uma alarmada declaração ao País: "O PS está à direita do PSD!" A coisa só pode ser grave e surpreendente para o próprio Marques Mendes, político gentil e, aparentemente, alheado da recente História pátria. O PS sempre alimentou a nossa inocência, comovendo-nos com a incessante litania da esperança. Quando os seus militantes atroavam as ruas, gritando a idílica frase "Partido Socialista, partido marxista!", ignoravam, com idêntico ardor, o exacto significado do que diziam.

Nada disto tem importância. Nunca ninguém se preocupou com os ideais, as doutrinas, os projectos do PS para Portugal. Acaso o PS não tinha nenhum. E, pelos vistos, não o tem. Aquela extasiada história do "partido marxista" foi logo removida do ABC, quando Willy Brandt recomendou a sua rápida submersão. Ávidos de "modernidade", os dirigentes do PS estabeleceram o preceito de que a melhor teoria é não ter teoria alguma.

Ilustra a história um encantador episódio entre Mário Soares e Piteira Santos. Aquele teria perguntado a este: "Porque é que você não se inscreve no Partido Socialista?" E Piteira: "Porque sou socialista!" Na realidade o PS nunca praticou, nem involuntariamente, o socialismo, justificando-se com o "pragmatismo" ou apoiando-se num enigmático "contexto histórico", de que servia de escora a "guerra fria". Os factos induzem-nos a duvidar se alguma vez houve "socialismo", por módico que fosse, em qualquer parte do planeta.

Não foi Sócrates que deu cabo do PS. Foi o PS que deu cabo da ideia que, erradamente, se fazia do PS. Sócrates regressou à "pureza inicial" do partido, como foi enternecedoramente sublinhado no jantar comemorativo da fundação. Mas Sócrates deu, também, cabo do PSD de Mendes; ou, pelo menos, ensarilhou o PSD e entalou Mendes. Este, averiguadamente desconcertado, diz o que não devia dizer e toma atitudes tão ignaras quanto absurdas. O incidente Carmona é outra parcela a juntar à soma de disparates. Ante esta rude gesta, Luís Filipe Menezes, sibilino e doce, por vezes na cintilação de leve sarcasmo, vai tecendo os fios que enredam Mendes numa trama cada vez mais inextricável.

Entretanto, a designação de António Costa para Lisboa ergue a suspeita de que Sócrates quis remover um émulo poderoso. Manigância com antecedentes: lembremo-nos das ciladas a Mário Soares e a Manuel Alegre. Maquiavel advertiu que, em política, não há moral. Sócrates não leu: mas aprendeu de ouvido.

Os limites e as confusões deste aviltamento convidam-nos a concluir que, com cavalheiros de tal porte, tudo se resume a ganhar ou a perder.

Portugal passa ao lado.

Baptista-Bastos»

Reflictam sobre ele e digam que não tenho razão para ir a correr à livraria mais próxima!

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