A Irlanda do Norte tem finalmente um governo próprio.
Na sequência do resultado das eleições legislativas de 7 de Março e após o estabelecimento de um acordo de incidência governativa entre os líderes do DUP (Partido Unionista Democrático) e do Sinn Fein, Ian Paisley e Gerry Adams, tomou hoje posse um governo de coligação onde pontificam as figuras do citado Ian Paisley e de Martin McGuinness (nomeado pelo Sinn Fein).
Para quem julgue tudo isto algo de natural, sempre recordo que o processo de pacificação na Irlanda se arrasta há cerca de 13 anos, entre avanços e recuos, delicadas negociações e algumas manobras de profunda perturbação. Entre estas conta-se o famigerado caso de “espionagem”, que em 2002 determinou um assinalável retrocesso no processo com o restabelecimento da “administração directa” de Londres.
Apenas quatro anos depois e após a impossibilidade de provar em tribunal as acusações contra o Sinn Fein é que o processo de “devolução” da Irlanda aos irlandeses foi retomado.
Para quem espere que esta nova etapa se venha a desenrolar sem sobressaltos convirá recordar que o processo de “independência” irlandesa remonta ao século XII, quase às origens da formação da Grã-Bretanha, e infelizmente conheceu demasiados casos sangrentos (a revolta abafada num banho de sangue por Oliver Cromwell em 1649, a chamada “Páscoa Sangrenta” de 1916 e o não menos célebre “Domingo Sangrento” de 1972), atentados como os perpetrados pelo IRA nos armazéns londrinos da cadeia Harrod´s e em Brighton, durante a convenção dos conservadores, nos anos 80 do século passado, políticas desumanas aplicadas pelos governos britânicos sobre os activistas católicos, como a das prisões sem culpa formada e sem julgamento a que muitos dos militantes e simpatizantes do Sinn Fein e do IRA se viram “condenados” (pelas quais a Grã-Bretanha viria a ser condenada em 1971 pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem).
Tudo isto não retira mérito, pelo contrário, aos esforços que de parte a parte conduziram ao anúncio pelo IRA de um cessar-fogo unilateral em 1994 (que mesmo quando pontualmente quebrado foi a espinha dorsal do processo de pacificação), ao estabelecimento em 1998 do Acordo de “Sexta-Feira Santa” que estabeleceu a criação de uma assembleia eleita segundo um modelo proporcional e um executivo de coligação entre todos os partidos, à realização de eleições em Novembro de 2003 (que confirmaram a importância do Sinn Fein de Gerry Adams e do DUP do pastor Ian Paisley), ao processo de desarmamento do IRA, concluído em 2005 e aos Acordos de Saint Andrews, que em 2006 acertaram um esquema de partilha do poder entre aqueles dois partidos.
Sendo certo que o futuro aos irlandeses pertence, resta-nos esperar que de uma vez por todas tenham terminado as manobras desestabilizadoras e que as comunidades católica e protestante tenham encontrado um efectivo caminho comum.
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