É que entre banquetes e outras cerimónias (a Universidade local aproveitou a oportunidade para proceder ao doutoramento honoris causa do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso) os notáveis das principais economias voltaram a debruçar-se sobre a realidade económica mundial e depois de nas duas reuniões anteriores terem decidido:
- a implementação de enormes pacotes de estímulo à economia, orçados em muitos biliões de dólares;
- a reforma do sistema de votação no FMI, por forma a reconhecer a importância das economias emergentes da China e da Índia;
- a regulamentação da actividade dos hedge funds;
- a limitação dos paraísos fiscais;
- a redução do mecanismo de prémios no sistema financeiro;
- a criação de uma comissão internacional, o Finantial Stability Board, para ajudar a prevenir futuros cenário de crise;
voltam agora a encontrar-se tendo como ponto principal da agenda a questão dos prémios desproporcionados que a banca já está de novo a praticar.
Não tendo conseguido atingir senão parcialmente os objectivos anteriores[1] – o comportamento e os resultados evidenciados pela banca e o regresso a debate da questão dos prémios é disso evidência mais que reveladora – mas confortados com os sinais positivos que alguns não param de anunciar, os líderes das principais potências económicas repetiram os usuais discursos de circunstância, de fé num futuro melhor e de penhorado empenho na rápida resolução da crise.
Muitas foram as declarações e as notícias que antecederam a cimeira, sendo de destacar as que forma dando conta das dificuldades em torno da famigerada questão dos bónus. Desde o anúncio da posição de Barack Obama, que na semana anterior à cimeira se mostrara pouco favorável a uma política de limitação dos bónus, quando numa entrevista (citada aqui pela BLOOMSBERG) questionou a lógica de limitar os bónus dos executivos de Wall Street e não os dos homólogos de Silicon Valley ou os dos futebolistas, que se sentiu um significativo aumento da pressão de políticos europeus em sentido inverso. Neste grupo destaquem-se as declarações de Peer Steinbrueck, o ministro alemão das Finanças, que, como refere aqui a BBC NEWS, acusou o Reino Unido de estar a bloquear o processo de nova e mais restritiva regulamentação financeira para agradar à City londrina.
Neste clima de divisão e de aparente cedência (novamente) aos interesses das grandes empresas financeiras, ainda antes do início da cimeira o sempre politicamente e bem comportado Durão Barroso (representante da União Europeia à cimeira) foi dizendo, segundo citação do PUBLICO, que «O mundo não pode pedir ao G20 mais do que o G20 é capaz de dar»... pelo que não será de estranhar que as conclusões do encontro não tenham passado de mais uma série de boas intenções:
- reforço da regulamentação;
- necessidade do sector financeiro se dotar de maiores volumes de capitais;
- aumento da importância do G20 e progressiva substituição do G8;
desprovidas de concretização e que novamente adiaram as reformas que muitos julgam indispensáveis – extinção dos paraísos fiscais, exclusão da banca comercial das actividades especulativas e redução do poder de criação de moeda pela banca e sua transferência para o Estado – para que futuros cenários de crises económicas possam ser encarados como raros.
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[1] De forma sintética pode-se dizer que das seis intenções manifestadas apenas uma (a criação do Finantial Stability Board) se pode considerar cumprida, pois todas as outras o foram apenas em parte.
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