quinta-feira, 22 de março de 2007

DÚVIDAS SOBRE A OTA

Dia após dia continuam a suceder-se na imprensa nacional notícias sobre o projecto de construção do novo aeroporto na Ota. Umas vezes para referir as movimentações políticas, outras repetindo intervenções e discursos do governo reforçando a ideia daquela inevitabilidade ou para divulgar estudos, pareceres e opiniões pró e contra o projecto.

Maquete do novo aeroporto da Ota

Neste último grupo insere-se a recente divulgação da publicação próxima de um livro que compilará opiniões e pareceres de especialistas de diferentes áreas, contra a opção pela localização na Ota.

Sendo proverbial a tendência dos portugueses para se considerarem especialistas de todas as áreas (pelo menos foi isto que afirmou há dias Jorge Coelho quando confrontado com a crescente oposição à Ota), o que distingue este livro é o seu autor. Nada mais nada menos que o director do Instituto de Defesa Nacional e professor da Universidade Católica, Mendo Castro Henriques. Numa entrevista então noticiada no PORTUGAL DIGITAL, aquele universitário diz ter-se interessado pela questão enquanto cidadão individual e destaca o facto de sentir que a comunidade científica estará a tomar uma posição de cidadania e a contestar a decisão governamental.

Erguendo um pouco o véu sobre o conteúdo da obra a publicar (prometida para o próximo mês de Abril, sob a chancela da editora Tribuna e com título provisório «Ota não! Portugal sim!») sempre foi deixando as seguintes questões:

1 - a região da Ota não oferece grandes condições de navegabilidade, seja pelo regime de ventos, seja pela ocorrência regular de nevoeiros (que terá estado na origem da deslocação da esquadrilha de caças da FAP para Monte Real);

Base Aérea de Monte Real

2 - a localização do futuro aeroporto na Ota colocará o mesmo problema de insegurança da Portela, uma vez que os aviões terão que sobrevoar a baixas altitudes zonas densamente povoadas como a do Carregado (população da ordem das 30.000 pessoas e prédios de 12 andares) ou talvez pior uma vez que o Carregado se localiza numa cota superior ao aeroporto, ao contrário do que acontece em Lisboa onde é a Portela que se localiza numa cota superior;

Vista parcial do Carregado

3 - a localizar-se na Ota o novo aeroporto será construído em leito de cheia o que implicará a necessidade de remoção de umas dezenas de milhões de metros cúbicos de terra (entre 50 e 130 milhões de m3, consoante as fontes);

Local previsto para a construção da futura aerogare da Ota

para concluir que nos estão a vender uma mentira, se calhar nem precisamos de um novo aeroporto.

Além de esta tese ser subscrita por outros observadores, existem ainda outras “incongruências” que necessitam ser bem explicadas.

É disto exemplo a notícia do SOL do passado dia 17 de Março que, referindo um estudo da NAV (Navegação Aérea de Portugal), afirmava que mesmo com as duas pistas previstas o novo aeroporto não permitirá realizar aterragens e descolagens em simultâneo, não terá capacidade para movimentar mais de 70 aviões por hora (a meta fixada pelo governo é de 80 aparelhos/hora) e atingirá a sua capacidade máxima ao fim de 13 anos de actividade e não de 50 como pretende o governo.

Confirmando-se estes dados, que o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, se apressou a minimizar, dizendo que aquele relatório se destinava a «...resolver os problemas que surjam» e que os estudos «...demonstram que apenas em 2050 se atingirão 42 milhões de passageiros», serão cada vez mais (e mais fortes) as questões por responder.

Já em meados de Fevereiro, o Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, veio a público perguntar porque é que só foram equacionadas as opções de instalação em Rio Frio e na Ota, quando sendo conhecidas à partida as limitações ambientais da primeira este simples facto transformaria automaticamente a segunda numa opção menos má.

Estes factos e a defesa acérrima que o governo de José Sócrates insiste em fazer da opção pela Ota tornam inevitáveis críticas como a colocada pelo líder da oposição, Marques Mendes, que levanta a suspeita sobre as razões da escolha. Se manifestamente não são de natureza técnica, então o que a sustenta? Habituados como estamos a que os interesses públicos sejam demasiadas vezes subordinados a interesses privados, a dúvida é pertinente e o ar ofendido do primeiro-ministro durante a interpelação parlamentar, parece cada vez mais uma representação muito pouco convincente e de muito má qualidade.

Assim revela-se cada vez mais pertinente a necessidade de repensar todo este problema, começando por “forçar” o governo a suspender o projecto de adjudicação das obras na Ota já este ano, pelo que aqui deixo o convite/apelo a que subscrevam uma das seguintes petições online:

http://www.petitiononline.com/naoaerop/petition.html

http://www.petitiononline.com/atpr2005/

e as divulguem, no sentido de vermos convenientemente debatida toda a problemática em torno do novo aeroporto, se é que de todo em todo dele necessitaremos...

1 comentário:

mch disse...

Caro Sr. Arnaldo Xarim

Por maravilha dos motores de pesquisa dei com a sua entrada sobre o proximo livro que eu vou coordenar com os trabalhos de especialistas como Antonio Brotas, Kruz Abecasis, Ribeiro Teles, Loureiro dos Santos, Frederico Carvalho, Rui Rodrigues, Teresa Gamito, das áreas dos transportes, da defesa e do ordenamento do território.
Fico contente porque so seus resumos da questão são muito bons e que a cidadania despertou finalmente em Portugal a propósito de uma questão decisiva para o nosso futuro.
Se assim entender escreva-me para netmendo@netcabo.pt ou mendohenriques@fch.ucp.pt
Fico ao seu dispor na medida das minhas limitações de tempo.
MEndo henriques