quarta-feira, 10 de outubro de 2012

DESACERTOS


Apesar do silêncio cúmplice da generalidade dos órgãos de informação, há muito que a opção do governo português pela regra cega do equilíbrio orçamental vem sendo contestada, atitude que ganhou nova visibilidade com as grandes manifestações de Setembro e, por mais limitadas que tenham sido as suas conclusões, com a recente realização do Congresso Democrático das Alternativas.

A grande mentira que tem sido tecida e sustentada em torno da inevitabilidade das opções e da inexistência de alternativas começa a revelar toda a sua extensão; após a comprovada falência das opções de Vítor Gaspar até já Augusto Mateus, ex-ministro da economia dum governo de António Guterres, veio a terreiro afirmar que «A estratégia do governo não é “tonta” mas “está errada”» e assegura que a insistência na mesma solução conduzirá a que « “Daqui a um ano teremos o mesmo problema que temos agora”», além de que a tão louvada «Redução do défice externo “é positiva, mas não sustentável”» por se tratar duma consequência natural da redução do consumo e do investimento.

Alvo dum número crescente de críticas o ministro Vítor Gaspar já nem encontrará nos correligionários ideológicos do FMI o esperado conforto, pois na edição de Outono do seu World Economic Outlook o próprio «FMI reconhece que calculou mal o impacto da austeridade na economia», pelo que por cada euro de austeridade, a economia não cai 0,5 euros, mas sim entre 0,9 e 1,7 euros. Um pequeno desvio (qualquer coisa entre 80% e 240%) que, para usar uma expressão cara a outra grande figura do actual governo, António Borges, é inaceitável em qualquer aluno do 1º ano do curso de economia de qualquer universidade (a menos que, para manter a analogia com personalidades da actual governação, se tenham candidatado a equivalências duvidosas…).


Este pequeno desvio, que há décadas vem condenando milhões de cidadãos de todos os países que já registaram intervenções do FMI, deverá passar incólume e os “técnicos “ do FMI continuarão a executar a sua tarefa de destruição sistemática das economias onde lhes permitam actuar. Perante os resultados que podemos comprovar na realidade nacional e que não diferem dos que se registam e registaram noutras economias e noutros continentes (se não lembre-se que em Março de 2011, nas vésperas do pedido de intervenção formalizado por José Sócrates, o ex-presidente brasileiro, Lula da Silva, bem consciente dos resultados no seu país natal, declarou em Lisboa que «FMI não é solução para Portugal» e deixou o «alerta que FMI traz mais problemas do que soluções»), restará ainda alguma dúvida sobre a clamorosa fragilidade técnica do modelo com que pretendem resolver as dificuldades nacionais?

É claro que nem tudo o que vem dos lados do FMI tem que ser obrigatoriamente mau e reprovável, algumas das suas análises e comentários são aproveitáveis – como aquele onde se avisa que «Fuga de capital da periferia para o centro da Europa agrava a instabilidade» – mas o pior é que as opções para contrariar a tendência inserem-se na linha da estratégia adoptada por Vítor Gaspar: a opção não correu como previsto, mas como a teoria está correcta vamos aplicar nova e mais poderosa dose do “remédio”… vai doer, mas agora vai resultar!

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