Apesar do
silêncio cúmplice da generalidade dos órgãos de informação, há muito que a
opção do governo português pela regra cega do equilíbrio orçamental vem sendo
contestada, atitude que ganhou nova visibilidade com as grandes manifestações
de Setembro e, por mais limitadas que tenham sido as suas conclusões, com a
recente realização do Congresso Democrático das Alternativas.
A grande
mentira que tem sido tecida e sustentada em torno da inevitabilidade das opções
e da inexistência de alternativas começa a revelar toda a sua extensão; após a
comprovada falência das opções de Vítor Gaspar até já Augusto Mateus,
ex-ministro da economia dum governo de António Guterres, veio a terreiro
afirmar que «A
estratégia do governo não é “tonta” mas “está errada”» e assegura que a
insistência na mesma solução conduzirá a que « “Daqui
a um ano teremos o mesmo problema que temos agora”», além de que a tão
louvada «Redução
do défice externo “é positiva, mas não sustentável”» por se tratar duma
consequência natural da redução do consumo e do investimento.
Alvo dum
número crescente de críticas o ministro Vítor Gaspar já nem encontrará nos
correligionários ideológicos do FMI o esperado conforto, pois na edição de
Outono do seu World Economic
Outlook o próprio «FMI
reconhece que calculou mal o impacto da austeridade na economia», pelo que por
cada euro de austeridade, a economia não cai 0,5 euros, mas sim entre 0,9 e 1,7
euros. Um pequeno desvio (qualquer coisa entre 80%
e 240%) que, para usar uma expressão cara a outra grande figura do actual
governo, António Borges, é inaceitável em qualquer aluno do 1º ano do curso de
economia de qualquer universidade (a menos que, para manter a analogia com
personalidades da actual governação, se tenham candidatado a equivalências
duvidosas…).
Este pequeno
desvio, que há décadas vem condenando milhões de cidadãos de todos os países
que já registaram intervenções do FMI, deverá passar incólume e os “técnicos “
do FMI continuarão a executar a sua tarefa de destruição sistemática das
economias onde lhes permitam actuar. Perante os resultados que podemos
comprovar na realidade nacional e que não diferem dos que se registam e registaram
noutras economias e noutros continentes (se não lembre-se que em Março de 2011,
nas vésperas do pedido de intervenção formalizado por José Sócrates, o ex-presidente
brasileiro, Lula da Silva, bem consciente dos resultados no seu país natal,
declarou em Lisboa que «FMI
não é solução para Portugal» e deixou o «alerta
que FMI traz mais problemas do que soluções»), restará ainda alguma dúvida
sobre a clamorosa fragilidade técnica do modelo com que pretendem resolver as
dificuldades nacionais?
É claro que
nem tudo o que vem dos lados do FMI tem que ser obrigatoriamente mau e
reprovável, algumas das suas análises e comentários são aproveitáveis – como
aquele onde se avisa que «Fuga
de capital da periferia para o centro da Europa agrava a instabilidade» –
mas o pior é que as opções para contrariar a tendência inserem-se na linha da
estratégia adoptada por Vítor Gaspar: a opção não correu como previsto, mas
como a teoria está correcta vamos aplicar nova e mais poderosa dose do
“remédio”… vai doer, mas agora vai resultar!
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