terça-feira, 30 de outubro de 2012

CONVENIENTES CONIVÊNCIAS


A reduzida dimensão ética da generalidade dos governantes, além de crescentemente evidente, começa cada vez mais a surgir nos meios de informação. Exemplo disso é a publicação na última edição da revista grega HOT DOC duma lista de cidadãos gregos que “prudentemente” colocaram as suas fortunas a salvo em contas bancárias sediadas na confiável Suíça, a que se seguiu a notícia que foi «Detido jornalista que revelou lista de gregos com contas na Suíça».


A lista, composta por mais de 2.000 nomes integra, segundo notícia do LE MONDE, «… os nomes de numerosos homens de negócios, cirurgiões, dentistas e de alguns políticos, entre os quais um ministro do governo conservador de Costas Karamanlis (2004-2009)…», ou segundo esta notícia do PUBLICO, «…inclui empresários, advogados, armadores, médicos, antigos políticos e próximos deles, mas também “donas de casa” ou pessoas cujos nomes não são acompanhados de nenhuma situação profissional»; em resumo, nada de espantoso, salvo o facto da sua existência ser do conhecimento público desde 2010, ano em que a então ministra das finanças francesa, Christine Lagarde, a fez chegar às mãos do seu homólogo grego, George Papaconstantinou, que assegura desconhecer o que terá sucedido ao original.
Conhecida a possibilidade da sua divulgação pública a comunidade política reagiu de pronto e, segundo aquela notícia do PUBLICO, antecipou-se à publicação fazendo saber que o «…actual ministro das Finanças, Yannis Stournaras, disse ter pedido a França que envie uma cópia…», posição que contraria a inicialmente anunciada de «…afastar a possibilidade de agir judicialmente contra as pessoas que constam da lista, por evasão fiscal, alegando que ela foi obtida ilegalmente…» e que deverá ser resultado da «…indignação de muitos gregos com o que consideraram ser uma tentativa de encobrimento do caso…».

Além da óbvia desproporção na acção (enquanto o responsável pela publicação da informação foi detido sob a acusação de violação da lei de protecção de dados privados, o desvanecimento da lista dos faltosos não mereceu a menor reacção), pode-se concluir que a par com uma conveniente conivência entre o poder estabelecido e as grandes fortunas existe uma clara intenção de silenciar a verdade, fenómeno ainda mais evidente quando são conhecidos outros episódios que podem configurar claras tentativas de manipulação e silenciamento da informação.

A extraordinariamente rápida acção judicial contra Kostas Vaxevanis (o jornalista responsável pelo quinzenário HOT DOC) poderá ser apenas mais um sinal dum clima de intimidação que já registou, entre outros, o cancelamento do programa de televisão Proiní Enimerosi (emitido no canal de televisão pública ERT) que denunciou um episódio de tortura policial, mas que também estará a gerar reacções inesperadas, como seja o facto do Ta Nea (diário de centro-esquerda) ter dedicado grande parte da edição de hoje à lista que se procura manter secreta, evidenciando que a sanha dos poderosos contra a informação que não consigam controlar está para durar.

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