Aos dias
sucedem-se as semanas e infelizmente o centro de todas as atenções nacionais
continua a ser uma clara situação de emergência nacional, que ao contrário
doutras épocas, quando o perigo vinha do vizinho ibérico e era facilmente
identificável, assume hoje um aspecto mais difuso e conta com poderosos aliados
internos para melhor se mascarar.
O país poderá
não estar ocupado ou sequer sitiado por um exército, mas as suas instituições
revelam-se claramente submetidas a interesses que de modo algum podem se
aproximados com o da esmagadora maioria dos cidadãos, a ponto de não haver hoje
medida governamental que não seja justificada pela necessidade de cumprir o
Plano de Auxílio Económico-Financeiro determinado pela “troika” (FMI, BCE e
FEEF) que representa os credores.
Num
“post” anterior (que intitulei, por
versar sobre as falhas dos modelos do FMI e do ministro Vítor Gaspar, «DESACERTOS»)
aludi ao historial da influência do FMI nas economias onde lhe concederam
liberdade de actuação. Nessas, como agora sucede nos países europeus
intervencionados (Grécia, Irlanda e Portugal), ficou claro o efeito destrutivo dos princípios advogados pelo FMI, que desde a última década do século passado é
conhecido como o Consenso de Washington e que podem ser resumidos nas seguintes
linhas de actuação:
•
reforma
fiscal;
•
redução
dos gastos públicos;
•
desregulamentação
e liberalização do mercado;
•
abertura
ao investimento estrangeiro;
•
privatizações;
que
facilmente se reconhecem nas políticas seguidas pelos governos de José Sócrates
e de Passos Coelho (para só referir os mais recentes).
O
organismo encarregue de impor a aplicação das linhas programáticas que foram
responsáveis pela preparação do terreno para a expansão da globalização a
países do Sudoeste Asiático, da América Latina e da Ásia, continua hoje a
desenvolver a mesma actividade (embora os seus dois últimos directores-gerais,
Dominique Strauss-Khan e Christine Lagarde, tenham dado voz a alguma suavização
programática e até já se diga que o «FMI
reconhece que calculou mal o impacto da austeridade na economia») agora a
par com um BCE e uma Comissão Europeia, onde pontificam teses ainda mais
ortodoxas que as do próprio FMI, a ponto de haver já quem se lhes refira como o
Consenso de Berlim.
Consenso onde tudo se resume ao dogma das virtualidades do equilíbrio orçamental e os seus seguidores
não hesitam sequer em defender em público as maiores barbaridades (de que o célebre
conselho formulado por um deputado alemão para que o governo grego vendesse algumas
das ilhas do Mar Egeu para liquidar as suas dívidas é um claro exemplo) e em
fazer tábua rasa do mais elementar e básico princípio económico: o de que na
origem e destino de tudo se encontram pessoas!
Entalados
entre dois Consensos, esmagados por vagas sucessivas de políticas de
austeridade, os países da Europa do Sul parecem cada vez mais condenados à
queda num abismo que todos negam, mas os cidadãos sentem cada vez mais próximo...
e
que nem a aparente revisão proposta por Chritine Lagarde, quando anunciou que o
«FMI pede travão à austeridade na
Europa», pode ser encarada como perspectiva
viável duma efectiva reformulação da abordagem à crise, pois pouco tardou para que
sobreviesse a costela calvinista do ministro alemão das finanças e se ficasse a
saber que «Schäuble
critica abertura de Lagarde para suavizar austeridade».
É
claro que o tempo, a agudização da crise e a propagação da recessão até à
Alemanha acabará por fazer com que Schauble e os demais monetaristas
neo-liberais invertam a sua estratégia, mas então será demasiado tarde para
todos... e a Europa poderá ser não já o tão apregoado lugar de paz mas o palco
de mais que o mero cenário da luta diária dos cidadãos pela sobrevivência.
Sem comentários:
Enviar um comentário