sábado, 13 de outubro de 2012

SIRIANA[1]


As notícias que nos últimos dias têm chegado do conflito sírio, nomeadamente as que reportam problemas na fronteira sírio-turca onde na sequência do bombardeamento duma vila turca fronteiriça informam que a «Turquia ameaça com “resposta ainda mais forte” a Síria», dão claros sinais senão duma forte possibilidade de intensificação dos confrontos pelos menos duma clara deterioração das relações entre os dois estados, tanto mais que nos últimos dias Ancara procedeu ao desvio dum avião comercial sírio por alegadamente transportar equipamento militar proveniente da Rússia.

O envolvimento de Moscovo na polémica (que o ministro turco dos negócios estrangeiros, Ahmet Davutoglu, procurou desvalorizar de imediato, mas Moscovo não parece disposta a esquecer), pode inserir-se numa dupla estratégia relativamente à Rússia, “castigando” o apoio  diplomático e militar russo a Bashar Al-Assad e de marcando a posição turca no seio da NATO, enquanto faz subir de tom o ambiente com a vizinha Síria.

Depois de num período anterior se terem registado «Confrontos entre sunitas e alauítas no Líbano por causa da Síria» e após um incidente que envolveu o abate dum caça turco (ver a propósito o “post” «O CARROSSEL SÍRIO»), parece agora ter deslocado a sua atenção mais para Norte, zona que além de constituir parte do perpetuamente reivindicado território do Curdistão é igualmente ponto importante da rede de gasodutos e oleodutos da região.



Embora a imprensa ocidental continue altamente empenhada em relatar o morticínio em que se transformou a luta interna pelo poder na Síria, questões como as motivações oriundas do poderoso sector energético ou as que envolvem o claro interesse judaico na desestabilização dum regime pró-iraniano (ver a propósito o “post” «O SOFRIMENTO SÍRIO» merecem pouco ou nenhum destaque e até a quem leu a recente notícia do DN assegurando que «Líder do Conselho Nacional vai pela 1ª vez à Síria» poderá ter passado quase despercebido a clara semelhança com o sucedido durante as invasões do Afeganistão e do Iraque “pilotadas” por nacionais afegãos e iraquianos radicados no Ocidente.

Para aumentar a intranquilidade na região, junte-se a tudo isto o óbvio interesse turco de hegemonia regional, o ensejo de aproveitar um pequeno confronto para medir forças com o rival Irão e, quiçá, reforçar a abalada proximidade com Israel na sequência do episódio do navio assaltado pelo Tsahal, mas que a construção do oleoduto que ligará o de Baku-Tbilisi-Ceyhan ao de Ashkelon-Eilat (ver a propósito o “post” «DUBITANDO AD VERITATEM PERVENIMUS» importa preservar.


[1] Alusão ao filme homónimo, realizado por Stephen Gaghan e protagonizado por George Clooney, cujo enredo relaciona directamente a intrincada situação política do Médio Oriente com os interesses do sector dos combustíveis.

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