terça-feira, 15 de março de 2011

QUÁDRUPLA CATÁSTROFE


Quando poucas horas após as primeiras notícias sobre o sismo que abalou o Japão começaram a chegar as primeiras informações sobre a dimensão da devastação provocada pelo tsunami que se lhe seguiu, poucos anteciparíamos que a catástrofe poderia alcançar a dimensão que hoje se espera.


É que além dos enormes estragos humanos e materiais que os fenómenos naturais provocaram, a ponto de ainda hoje se desconhecer a sua dimensão definitiva, há ainda que somar os efeitos duma catástrofe nuclear quase garantida, que o governo nipónico tardou em admitir.

Sem pretender discutir aqui questões ligadas à segurança de instalações nucleares, problema nada displicente face à reconhecida actividade sísmica no Japão e à enorme exposição da sua vasta linha de costa a fenómenos do tipo tsunami, limito-me aqui a recordar anteriores situações ligadas a acidentes com as centrais nucleares japonesas (como o ocorrido em 1996 na província de Ibaraki que lançou uma nuvem radioactiva sobre os subúrbios de Tóquio[1]) e com o invariável silêncio das autoridades nipónicas.

Refugiando-se sempre no desgastado argumento de pretender evitar o pânico, as autoridades recusam-se a informar sobre a verdadeira dimensão da catástrofe que actualmente se desenrola; só após a publicação duma ou outra notícia (como esta do I ONLINE que hoje mesmo admitia que «Crise nuclear pode ser pior do que governo admite») e pela movimentação de especialistas de várias nacionalidades, incluindo a própria AIEA) é que o governo de Naoto Kan acabou por admitir a existência dum risco que a série de explosões registadas na central de Fukushima há muito fazia prever.

O comportamento do governo nipónico é tanto mais passível de críticas que, sabendo-se que não foi apenas uma mas pelo três as centrais nucleares afectadas pelo tsunami, de imediato se tornou evidente que não poderíamos estar perante uma situação normal, facto que a própria organização ambientalista GREENPEACE já denunciara[2] e que levou o DIÁRIO DIGITAL a escrever que o «Director AIEA compara acidente nuclear no Japão a Tchernobil».

É particularmente triste que num momento em que um país atravessa uma crise humanitária da dimensão da que atingiu o Japão, acabe por ser o comportamento irresponsável e pouco transparente do seu governo a justificar este comentário e que ainda existam órgãos de comunicação que apreciem a situação nos termos em que o fez o GLOBO, dizendo que o «Japão tenta evitar pânico nos mercados sobre crise nuclear», que simultaneamente tantos e tão necessários recursos no apoio às populações sobreviventes acabem desviados para o controlo da situação nuclear e que aquela que já é apontada como uma tripla catástrofe (sismo, tsunami, nuclear) ganhe contornos ainda mais graves no capítulo da ética dos governantes.


[1] A notícia pode ser confirmada nesta página do «The 4th Media».
[2] Como pode ser confirmado nesta notícia do PUBLICO.

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