domingo, 13 de março de 2011

GERAÇÃO À RASCA


Com maior ou menor adesão, depois do protesto público realizado ontem em várias cidades do país (Braga, Castelo Branco, Coimbra, Faro, Funchal, Guimarães, Leiria, Lisboa, Ponta Delgada, Porto e Viseu) ninguém poderá dizer que nada aconteceu.


Fortes das muitas razões que os levaram a manifestar publicamente o seu descontentamento, a «geração à rasca» apenas está a revelar um pouco daquilo que faltou a gerações anteriores, àquelas que sofreram e quase calaram o Estado Novo e à que, empolgada com o 25 de Abril e a Revolução dos Cravos, parece que se esqueceu de ensinar aos vindouros as cores e os sabores da Liberdade e da Democracia e ainda os valores e uma ética de defesa do interesse colectivo.

Fruto duma sociedade cada vez mais dominada pela preponderância do interesse pessoal sobre o colectivo e por um sistema de educação mais preocupado com os resultados que com a qualidade, chegámos ao ponto de apresentarmos hoje níveis de formação nunca alcançados a par com uma taxa de desemprego entre os mais jovens próxima dos 25%.

Será pois de estranhar que estes jovens se revoltem e se sintam marginalizados numa sociedade que tanto preza o sucesso individual?

Perante uma geração que apresenta níveis de formação como as anteriores nunca dispuseram – tenham estes sido alcançados nas universidades e politécnicos nacionais ou obtidos nos programas das Novas Oportunidades –, condenados pelo modelo de desenvolvimento económico à eterna qualidade de estagiários, de profissionais sem vínculo ou subaproveitados em tarefas manifestamente desadequadas, que outra coisa lhes resta, salvo a submissão ou a emigração, senão o protesto?

Será admissível que os poderes estabelecidos neste país ainda precisassem destas manifestações para entenderem a insustentabilidade da situação dos mais jovens? e que tanto tenham tentado para desmobilizar os menos afoitos, incluindo notícias e avisos sobre possíveis acções policiais? e que agora, confrontados com as centenas de milhares que desfilaram, digam (segundo esta notícia do DN) como o terá feito José Sócrates, que compreende a sua frustração?

É que, se como o próprio terá afirmado o acesso ao mercado de trabalho dos mais jovens (e não só) não é o que desejava, então como se explica a insistência nas políticas e no modelo económico que pôs todo o País à rasca? e que interpretação dar às declarações do ministro Santos Silva perante as câmaras de um canal televisivo, de que (e cito de memória) «...as manifestações contra as instituições (entenda-se: governo) não são recomendáveis»?

Talvez ontem tenha sido dado um primeiro passo para responder as estas (demasiadas) questões, que actuais, antigos e futuros governantes deste país, continuam sem dar resposta.

Talvez a «geração à rasca» tenha iniciado finalmente um processo de crescente consciencialização do real poder dos cidadãos. 

Talvez...

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