Que balanço fazer da visita do presidente chinês, Hu Jintao, aos EUA, além da óbvia pompa e circunstância com que este foi recebido em Washington?
Falar das manifestações a favor do Tibete ou da libertação do dissidente e mais recente Nobel da Paz, Liu Xiaobo, assinalar os importantes acordos comerciais avaliados em 45 mil milhões de dólares[1] e entre os quais está um acordo para a compra, até 2013, de 200 aviões à Boeing, ou acentuar a mais que cuidadosa forma como a administração Obama procurou proteger o seu ilustre convidado das situações mais complicadas?
Embora pareça manifesto exagero afirmar que as expectativas alimentadas por alguns analistas de que Obama iria ser muito mais assertivo com a política chinesa saíram goradas, manda a verdade que se diga que houve tentativas reais de que tal acontecesse, como sucedeu durante uma conferência de imprensa[2] ou na recepção oficial na casa Branca.
Talvez nunca como antes Washington se veja na necessidade de praticar uma política de “públicas virtudes” para melhor dissimular os seus “vícios privados”, ou seja a sua crescente dependência do financiamento externo, numa conjuntura onde a economia chinesa se revela cada vez mais forte e a única capaz de assegurar aquelas necessidades.
Será assim lícito esperar de quem suporta os grilhões da dívida a loucura de morder a mão que a alimenta?
A evolução da economia mundial e a emergência da China como grande potência tornam particularmente improvável que esta administração norte-americana, ou as que lhe venham a suceder, voltem a dispor de condições para forçar a mão dos chineses em questões como os direitos humanos (signifique isto o que significar para uns e outros), a salvaguarda de Taiwan e do Tibete, o apoio chinês à Coreia do Norte ou até a proliferação de armamentos, tanto mais que os chineses fazendo juz à proverbial paciência oriental continuam a tecer habilmente uma teia de interesses e de subentendidos, distinguindo perfeitamente o fundamental do acessório, enquanto esperam que o tempo lhes entregue de bandeja a posição que hoje ainda é a dos americanos.
As próprias declarações conciliatórias de Hu Jintao a propósito dos direitos humanos (e a abordagem do lado americano, deixada bem claro pelo WASHINGTON POST nesta notícia), a reafirmação chinesa de que as questões de Taiwan e do Tibete continuam a ser matéria de natureza interna e a reconhecida desproporção de meios militares entre os dois estados[3] levam a concluir que apenas a questão coreana poderá sofrer alguma evolução, embora também aqui Pequim deverá estar a jogar numa progressiva erosão do regime de Pyongyang.
[1] Recorde-se que actualmente as exportações anuais dos EUA para a China estão avaliadas em cerca de 80 mil milhões de dólares, contra os cerca de 340 mil milhões importados da China.
[2] É curioso que sobre o teor da conferência uns órgãos de comunicação ( como o THE CHRISTIAN SCIENCE MONITOR nesta notícia) salientam a atitude mais dura de Obama, enquanto outros (como o WASHINGTON POST nesta notícia) preferiram referir o aspecto mais conciliatório de Obama para com Hu Jintao
[3] Para uma melhor noção desta realidade talvez baste referir que o orçamento anual de defesa dos EUA é superior a 700 mil milhões de dólares (algo como 4,3% do PIB americano em 2008) enquanto o chinês é de apenas 78 mil milhões (2% do PIB em 2008); o seu grande atraso em termos de equipamento (às quase 10.000 ogivas nucleares norte americanas os chineses contrapõem menos de 250 unidades) apenas é compensado pelo maior número de efectivos militares (mais de 2 milhões de homens contra pouco mais de 1,5 milhões de americanos).
Sem comentários:
Enviar um comentário