Há semelhança do que a pretexto do OGE ocorre entre nós, também o conjunto dos estados-membros da UE se entregam a delicadíssimos exercícios de malabarismo financeiro.
Seja de dimensão nacional (como acontece com a todo-poderosa Alemanha cujo parlamento acaba de aprovar cortes nos benefícios sociais[1]) seja de índole colectiva, como o que se discutiu nestes últimos dias em Bruxelas, a generalidade dos líderes europeus perfeitamente imbuídos do mais puro espírito neoliberal têm vindo a delapidar a qualidade de vida dos seus cidadãos (seja através de reduções de benefícios sociais e de aumentos de impostos, seja através de reduções salariais) sem revelarem o mínimo pejo e usando a mais inverosímil das argumentações: a inexistência de alternativas.
Numa palavra, o que Barroso, Sarkozy, Merkel e correligionários afirmam é que recorrem às mais impopulares das medidas por ausência de alternativas e para o conseguirem estão até disponíveis para rasgarem e alterarem acordos e tratados que se possam intrometer na sua sanha saneadora.
À revelia das populações de que se arrogam representantes políticos eleitos e/ou nomeados pretendem convencer milhões de europeus que a única solução para a crise passa por uma ainda maior degradação das condições de vida das populações, tudo para salvaguarda dos rendimentos dos grandes investidores, os quais por recearem que os Estados não consigam cumprir o pagamento dos juros das dívidas que contraíram para financiar o crescimento dos seus grandes negócios, ameaçam agora deixar de comprar os títulos de dívida que regularmente emitem. É que se nas ultimas décadas se registou uma significativa degradação dos orçamentos públicos tal deve-se em boa medida a dois factores; primeiro, à adopção de políticas fiscais fortemente orientadas para isenção dos ganhos de capital (juros e dividendos) e depois à enorme injecção de fundos públicos para evitar a falência do próprio sistema financeiro.
Em nome de um sobredito interesse público e a fim de evitar um não menos referido risco sistémico (que ditaria a falência em série dos bancos com os consequente prejuízos para os seus accionistas), os estados aumentaram significativamente o seu endividamento e vêem-se agora criticados e penalizados (através do aumento dos juros exigidos pelos “mercados”) por aqueles que salvaram da falência.
A Cimeira Europeia que teve lugar entre 28 e 29 de Outubro, em Bruxelas, que se caracterizou por novo adiamento das decisões mais polémicas, nem por isso deixou de aprovar a criação de mecanismos de penalização para os estados com níveis de endividamento mais elevado ou que revelem maiores dificuldades na. sua redução. Sobre uma efectiva discussão dos mecanismos de combate à situação de sufoco financeiro e de resposta à sangria da riqueza produzida pelas suas economias, os governantes presentes no conclave primaram pelo habitual silêncio, enquanto os meios de informação insistem em veicular a ideia da inexistência de alternativas.
Afadigados na discussão da eventual necessidade da introdução de alterações ao Tratado de Lisboa (aquele famigerado documento que foi recusado em referendo pela França, Holanda e Irlanda, mas que acabou ratificado graças a habilidades próprias de manipuladores), os políticos europeus esquecem-se de informar os seus eleitores que a mesma Comissão Europeia que exige contenção aos estados-membros aprovou um crescimento orçamental para 2010 e se prepara para fazer o mesmo para 2011...
...em linha e perfeita consonância com a criação dos indispensáveis cargos de Presidente do Conselho Europeu e de Alto-Comissário para os Assuntos Externos.
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