quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CAVA(CO)LHADAS[1]


Cumprindo o anúncio e enquanto a maior parte das atenções nacionais continuavam presas das negociações entre PS e PSD tendo em vista a aprovação do OGE para 2011, Cavaco Silva apresentou-se no CCB (aquele mesmo que fez construir para receber a primeira presidência portuguesa da UE e que orçamentado em 32,5 milhões de euros acabou por custar 200 milhões[2]) para anunciar que quer continuar em Belém.
Não fora a gravidade da situação nacional e quase me apetecia brincar com ela, dizendo que a opção não me espanta, pois face às restrições que se anunciam não será nada fácil conseguir uma colocação idêntica em benesses, mordomias e (nada digno de se desprezar) com tão poucas responsabilidades.
É que se por uma qualquer ironia do destino vier a ser outro o eleito para o cargo talvez as pessoas se espantem com a dinâmica e a capacidade de arquitectar alguma utilidade para a função que o novo inquilino de Belém venha a revelar e vendo bem, talvez afinal Cavaco acabe por ser o homem ideal para desempenhar a função de mais alto magistrado da Nação, porque depois de a ter reduzido a uma expressão tão insignificante (tão insignificante assim só me consigo recordar do famigerado almirante Américo Tomás), talvez só mesmo ele reúna tão poucas condições para continuar a ocupar o cargo.
De mais a mais, os mais recentes desenvolvimentos em torno da tragicomédia do OGE parecem orquestrados para proporcionarem um papel de especial relevo ao Presidente da República, que graças às suas reconhecidas capacidades técnica, negociais e persuasivas convencerá PS e PSD a viabilizarem um orçamento, a bem da Nação... e da sua reeleição.


[1] Cavalhadas é uma celebração portuguesa tradicional que teve origem nos torneios medievais, onde os aristocratas exibiam em espectáculos públicos a sua destreza e valentia (in Wikipédia).
[2] Os dados relativos aos custos podem ser encontrados nesta página da AECOPS.

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