quarta-feira, 15 de setembro de 2010

QUAL CRISE, QUAL CARAPUÇA...

Livre-se quem tenha chegado a um país como o nosso e desconhecendo em absoluto o que nele ocorre decida recorrer aos canais televisivos nacionais e em especial aos programas de grande informação e debate como meio de informação, pois ficará com a ilusória ideia que os grandes problemas nacionais não são o desemprego nem a crise económica, mas sim as gravíssimas questões do despedimento do principal responsável pela equipa nacional de futebol e a inquietante questão da condenação, por envolvimento num qualquer escândalo pedófilo, de uma conhecida figura da televisão.

É verdade, quando o Mundo se debate com a situação de crise económica e com o flagelo do desemprego, neste cantinho à beira-mar plantado discute-se acesamente aquelas questões com o mesmo empenho e invocação de argumentos como se da sua resolução dependesse a sobrevivência do País.

Qual crise, qual carapuça... o que parece preocupar mesmo os portugueses (a avaliar pela programação das televisões) são os problemas daquelas personalidades e de modo algum questões como a crescente pauperização das populações, de que a revolta que recentemente eclodiu em Moçambique é apenas um reflexo.


Consequência do agravamento das condições de vida e em resposta ao anúncio de novos aumentos de bens e serviços essenciais os moçambicanos saíram à rua para protestar e contestar um governo que regista cada vez maiores dificuldades em disfarçar as gritantes diferenças entre ricos e pobres e uma total incapacidade no combate à corrupção, que continua a ser um dos maiores flagelos das economias.

Pese embora o relatório hoje apresentado pela ONU que revela que a fome tem recuado nos últimos 15 anos, nem por isso o problema deveria merecer menor atenção pois aquele resultado positivo dever-se-á a um ciclo anormal de boas colheitas e de queda nos preços agrícolas, tendência que a crise mundial começa a inverter.

Mas, como referia no início, tudo isto tem passado muito ao lado dos espaços de grande informação televisiva, preferindo esta uma forma de mistificação da realidade e de aturdimento das populações que é ela própria um claro sinal da insensibilidade que grassa pelas sociedades ocidentais e de um tipo de miopia intencionalmente cultivada, que talvez só conheça indícios de cura quando a revolta dos desapossados chegar às cidades e aos bairros onde ainda se vive uma aparência de abundância.

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