domingo, 9 de maio de 2010

AS ELEIÇÕES INGLESAS

As muito aguardadas eleições inglesas ditaram os resultados esperados… Bom talvez não!

Talvez o líder dos “Tories[1] ainda acalentasse as esperanças de uma maioria parlamentar que as sondagens (e as inúmeras asneiras do inqualificável Tony Blair e do triste Gordon Brown) lhe chegaram a augurar, mas que a realidade (ou a conjugação do bizarro sistema de eleição uninominal e o resultado dos Liberais-Democratas de Nick Clegg) acabou por lhe negar.

A maioria relativa alcançada pelos Conservadores constitui uma raridade numa vida política inglesa programada para gerar maiorias parlamentares, mesmo que contrariando o sentimento (e o sentido de voto) dos eleitores. Pela segunda vez em 36 anos (a última foi em 1974 quando o conservador Edward Heath sofreu uma situação idêntica à que agora vive Gordon Brown) o Parlamento Britânico não apresenta uma maioria estável conservadora ou trabalhista facto que, dada a actual conjuntura económica mundial, poderá até não ser muito estranho, pois já em 1929 (no início da Grande Depressão) ocorreu uma situação idêntica.

A dispersão do eleitorado pode não constituir mais que um sinal da profunda crise que todos atravessamos e a confirmação de que o sistema da alternância bipartidária, tão do agrado e do interesse das elites económicas, começa a ser questionado pelas populações.

A ausência de verdadeiras soluções para os problemas que diariamente afectam as populações, por parte de qualquer da forças em contenda, ficou bem evidente durante a campanha eleitoral inglesa – facto que poderá ter estado na origem do sucesso televisivo de Nick Clegg – fazendo renascer a ideia de que nenhum dos partidos dispõe no seu interior do conhecimento nem das condições para enfrentar a actual conjuntura e até, quiçá, a ideia que substituir os trabalhistas pelos conservadores nada iria mudar na realidade.

A situação económica mundial e a problemática situação das finanças públicas inglesas, cujo défice em 2009 rondou os 12% do PIB (maior que os da generalidade das economias europeias e apenas suplantado pelo grego), constituem mais do que um presente envenenado para quem quer seja o futuro governo e, tudo o indica, proporcionará a já muito gasta situação de vermos dentro de umas semanas os novos governantes a anunciarem que a situação inglesa é muito pior do que alguma vez tinham imaginado (como se nos “corredores” políticos todas as formações não dispusessem já dessa informação) e que novas e maiores medidas de austeridade serão necessárias.

A própria imprensa já se vai fazendo eco de que a «Incerteza deixa os mercados nervosos», notícia que não constituirá mais que um primeiro aviso para o que se seguirá; como chamei a atenção no “post” «O Anel de Fogo» a situação financeira inglesa e da libra é muito mais frágil que a da generalidade dos países do Eurogrupo e do euro.

Aquela fragilidade, conjugada com a conturbada situação política inglesa, irá acelerar o processo especulativo que em pouco tempo poderá mergulhar a economia inglesa numa espiral de problemas que irão muito além das dificuldades de refinanciamento da sua dívida pública, pois a capacidade (e muito provavelmente a própria vontade política da Zona Euro) dos seus parceiros comunitários além de reduzida encontra-se profundamente dividida pela duplicidade que tem caracterizado a actuação inglesa no seio da UE.

Dividida, no plano interno, entre conservadores e trabalhistas; no plano comunitário, entre uma União que nunca a entusiasmou e um proteccionismo envergonhado; no plano internacional, entre os despojos de uma Commomwealth e uma América que sempre a usou como apêndice mas nunca como parceira, a situação da velha Albion[2] e de quem quer que venha a assumir nos tempos próximos o seu governo, é tudo menos invejável e justifica bem que os ingleses se sintam à beira de um ataque de nervos e a necessitarem desesperadamente de uma boa chávena de chá…

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[1] Tradicionalmente a câmara baixa, ou dos Comuns, do Parlamento Britânico era dividida em duas alas, os “Tories” e os “Whigs” consoante as posições dos eleitos se revelassem mais conservadoras e de maior apoio à coroa ou mais liberais. Com a progressiva organização e ascensão das modernas formações políticas a designação foi caindo em desuso, excepto para os Conservadores que ainda hoje são vulgarmente designados por “Tories”.
[2] Albion é uma designação arcaica e alternativa para o território que hoje conhecemos como Grã-Bretanha.

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