Como se não bastasse o facto da hierarquia da Igreja Católica nunca ter conseguido ultrapassar de forma clara e sem ambiguidades a época em que concentrava todos os poderes e de continuar sem revelar sinais de capacidade (ou vontade) para lidar com a actualidade e com as necessidades e os anseios dos grupos mais progressistas dos seus fiéis, a Igreja que Ratzinger dirige debate-se com um avolumar constante de escândalos aos quais vai reagindo de forma parcimoniosa e quase sempre desastrosa.
A apregoada piedade e amor ao próximo são cada vez mais figuras de estilo quando não pura letra morta, reminiscências de outras eras que muitos dos seus membros deverão questionar interiormente se realmente alguma vez existiram.
Talvez desde os tempos do polémico Pio XII (papado que muitos historiadores apontam como pouco crítico ou mesmo conivente com a hierarquia nazi alemã e que terá até funcionado como meio de encobrimento e de fuga de inúmeros daqueles responsáveis para fora da Europa) que a Igreja Católica não conhecia uma fase de popularidade tão baixa, razão que estará na génese da deslocação a Portugal do actual Papa.
Necessitando de voltar a mostrar ao Mundo banhos de multidão como os que conheceu o seu antecessor (João Paulo II foi sem qualquer resquício de dúvida um actor de mão cheia que poderia bem ter ombreado com muitas das estrelas de Hollywood) que melhor escolha poderia ter sido feita senão a de uma visita a um santuário localizado num país maioritariamente católico (que ainda não logrou libertar-se das peias impostas por uma Concordata subscrita nos tempos de um regime totalitário) e cujos poderes estabelecidos não enjeitariam a oportunidade de aparecer na “fotografia”, nem se atreveriam a provocar-lhe o menor embaraço. Num dos países mais atrasados da Europa (tanto do ponto de vista cultural como do económico) a presença de público era garantida e a bonomia dos governantes (para não falar de pura subserviência) fica cabalmente demonstrada no pronto encerramento da capital do país para que o “ilustre visitante” se possa deslocar em segurança.
Sobre a completa falência dos valores éticos e morais de muitos dos seus membros, mais proeminentes, sobre a perpetuação da exibição de uma opulência ainda mais escandalosa em tempos de crise e sobre os custos que a visita do Papa teólogo acarretarão[1] para um orçamento de Estado que se apresta a ser engordado à custa de aumentos de impostos e da criação de impostos extraordinários sobre os que trabalham, quase não se ouve uma palavra.
Pelos vistos já não é só a Santa Madre Igreja que cultiva a renúncia à realidade (tanto mais quanto esta seja adversa); agora é quase todo um Povo (o português) que aplaude ou assiste passivamente a mais este espectáculo enquanto lhe vazam tranquilamente os bolsos.
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[1] A atestar por notícias da imprensa (REGIÃO DE LEIRIA) só em obras o Município de Leiria deverá gastar um mínimo de meio milhão de euros nas imediações do santuário e as duas missas campais em Lisboa e Porto deverão orçar noutro tanto (segundo esta notícia do CORREIO DA MANHÃ); quanto às despesas na recepção ao “chefe de Estado do Vaticano” não foram divulgados números, da mesma forma que não terão sito feitas grandes contas aos milhões de horas de trabalho “oferecidas” aos funcionários públicos, comprovando à saciedade que afinal sempre existem valores mais altos que a sacrossanta produtividade.
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