Defende o autor que é insustentável pretender governar sem apoio parlamentar maioritário e que a situação económica do país não admite a actuação de um governo que não possa aplicar as medidas impopulares que se impõem, sustentando a sua argumentação no facto de no actual quadro parlamentar não existir a hipótese de coligação porque «...foi dito claramente – e mais tarde repetido ao primeiro-ministro – por todos os partidos, em sede de campanha eleitoral, que rejeitavam a hipótese de se coligar...», porque se sabe «...que o BE e o PCP não estão, em situação nenhuma, dispostos a fazer parte de qualquer tipo de entendimento...» e porque a alternativa restante seria a formação de um bloco central, opção já descartada por dois dos três candidatos à liderança do PSD.
Julgando suficientemente fundamentada a sua tese, conclui que só a convocação de novas eleições poderá evitar os dois anos de pântano político que teremos pela frente, mas talvez algum rebate de consciência o tenha levado a juntar mais uma condição para o sucesso da sua proposta: a de que «...os partidos tenham uma atitude responsável perante o momento que vivemos. Que digam qual a linha que defendem, que coligações estarão dispostos a fazer antes ou pós-eleitorais, que compromissos duradouros poderão assumir na Assembleia da República ou que muito claramente explicitem que ficarão satisfeitos se tudo ficar na mesma».
Sucede porém, que isso foi precisamente o que não fizeram os partidos que concorreram às eleições realizadas em Setembro último, perante o resultado do pleito e a passividade dum Presidente da República que não soube, ou não quis, criar as condições para obviar à formação de um governo minoritário.
Se forem fidedignas as conclusões do estudo dos dois investigadores do ISCTE, que ainda não li mas que o PUBLICO resumiu como revelando que a «...satisfação dos portugueses com a democracia bateu no fundo...», que estes «...não gostam de maiorias absolutas de um só partido...» e que manifestam «...reservas ao monopólio dos partidos e gostariam de participar mais» na vida política, bem se pode dizer que contrariamente ao que pretende Pedro Marques Lopes, a realização de eleições antecipadas pouco deverá adiantar.
Além do óbvio argumento (que o autor também refere, mas descarta prontamente) do custo de mais um acto eleitoral, existe ainda o precedente criado em 2005 com a substituição de Durão Barroso por Santana Lopes, que embora legal constituiu um evidente atropelo à ideia correntemente difundida pela comunicação social de que existem candidatos ao cargo de primeiro-ministro (se assim fosse aquela substituição teria sido manifesta ilegal) e a fortíssima possibilidade de tudo continuar na mesma, seja mediante nova vitória do PS ou o regresso do PSD ao poder.
É que, caso Vasco Graça Moura (outro articulista do DN da mesma linha política de Pedro Marques Lopes) tenha apresentado na sua mais recente crónica[2] um diagnóstico ajustado para o país, o que dele devemos concluir é que o cenário de antecipação do calendário eleitoral apenas fará sentido se as forças políticas em liça assumirem uma postura diferente e quando os eleitores revelarem a disposição de confiarem o seu futuro a agentes diversos daqueles que até agora têm merecido a sua confiança.
Como várias vezes aqui tenho deixado escrito, escolher entre PS e PSD não constitui uma verdadeira alternativa ou sequer uma opção diferente, pois na essência ambos os agrupamentos políticos perfilham as mesmas soluções.
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[1] "Representação política - O caso português em perspectiva comparada", da responsabilidade de André Freire e José Manuel Leite Viegas, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE, e editado pela Sextante Editora.
[2] Ver a crónica “Morangos de escabeche”, que Vasco Graça Moura inicia com o seguinte parágrafo: «É sempre a mesma coisa: um país que não sai da cepa torta, uns governantes que não sabem o que andam a fazer, uma incapacidade de concepção e de tomada de medidas sérias de fundo, uns políticos de oposição que não querem assumir a responsabilidade de derrubar o Governo, um conjunto de insatisfações imediatistas e corporativas, um constante sacudir da água dos capotes, um falhanço generalizado em todos os planos, uma parlapatice desmultiplicada para mascarar a realidade…»
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