sábado, 27 de março de 2010

O CAMINHO DESTA EUROPA

Depois de mais uma cimeira europeia que teve a situação financeira da Grécia como tema principal e quando continuam a surgir notícias de que os «Alemães rejeitam que país salve a economia grega», não será exagero reflectir no caminho que esta Europa parece querer trilhar.

Mesmo descontando o facto de que algumas declarações provenientes do outro lado Reno – como esta em que «Alemães sugerem que Grécia deve vender as ilhas para pagar a dívida» –, são fundamentalmente para consumo interno e destinadas a assegurar bons resultados eleitorais locais, nem por isso deixam de ser reveladoras da pior das mentalidades e da forma mais arcaica de concepção do desenvolvimento e aprofundamento do processo europeu.

Sem deixar de compreender a necessidade de não transformar um processo de solidariedade numa ideia de facilitismo e de que qualquer que seja a “asneira” de um Estado-membro o grupo estará sempre disponível para o apoiar, importa que a ideia de uma Europa solidária e apostada num processo de união baseado na participação igualitária de todos os Estados seja retomada.

Muitas coisas parecem incompreensíveis no actual panorama europeu; desde a postura sobranceira da Sra Merkel – pressurosa em defender a “opinião” dos seus eleitores alemães e em forçar a prevaricadora Grécia a uma situação de clara humilhação, como nunca se mostrou em “castigar” os banqueiros que ajudaram a ampliar e a difundir a actual crise – até à aparente posição de conflito assumida pelo Presidente da Comissão que já afirmou esperar que resulte da próxima cimeira «uma decisão para saber como gerir a Grécia»[1], passando pelo incompreensível abandono da defesa do Euro.

É que, para todos os efeitos, as notícias que abundam na imprensa económica ou na generalista sobre a fragilidade da economia grega, os ataques especulativos que os especialistas financeiros têm levado a cabo contra o Euro e o aproveitamento político que os acérrimos defensores do dólar americano e da libra inglesa têm tirado desta situação, se numa primeira fase até pode ser acolhido como benéfico pelos sectores exportadores europeus (beneficiados pela descida da cotação do preço internacional das mercadorias que querem vender), será inevitavelmente prejudicial para todos quando reflectido no aumento dos custos das matérias-primas e, principalmente, dos combustíveis (produto de cuja importação a UE está especialmente dependente). Mais, a fragilidade do Euro e a consequente revalorização do dólar americano interessará especialmente quem detenha activos denominados nesta moeda, ou seja o sector financeiro internacional, que o mesmo é dizer a precisa Wall Street que todos arrastou na sua visão especulativa da actividade económica.

É por tudo isto que importava que a UE tivesse agora líderes com a visão e a capacidade para aproveitarem as contradições que minam o actual modelo económico global e lançassem as bases de um modelo menos suportado no sistema financeiro; ora isso é que parece de todo afastado quando se lê que «Merkel quer ajudas à Grécia no âmbito do FMI» e quando continuam por tomar as medidas que conduzam efectivamente os Estados a recuperarem um efectivo controlo sobre a criação de moeda, o que só será possível com uma moeda forte e um igualmente forte sentido de unidade pan-europeia.
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[1] A citação e a posição de Durão Barroso podem ser lidas nesta notícia do PUBLICO.

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